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“Meu nome é Lázaro”

“Meu nome é Lázaro”


Ontem, depois de ler um texto de G. K. Chesterton, uma pergunta passou a me importunar: por que, afinal, voltei à Igreja Católica? De seminarista na juventude a agnóstico, depois ateu, niilista convicto, o que me fez, aos 51 anos, mudar? Há tempos sentia-me, como Ezequiel, caminhando por um vale repleto de ossos secos, mas sem que Deus me falasse. Sob a aparência de uma vida normal, a insatisfação se agitava – e havia uma angústia renitente, pronta a despertar comigo todas as manhãs. Talvez tenha sido ela o instrumento que me trouxe, de reflexão em reflexão, até o estranho sonho que, há alguns meses, desencadeou a mudança. Quanto a ele, não o contarei por dois motivos: por discrição e porque, como disse Edith Stein, certamente inspirada num sermão de São Bernardo de Claraval, “secretum meum mihi” – “meu segredo é só meu”. Quem precisa saber os detalhes já os sabe, a começar Dele, que inspirou a viagem onírica e me permitiu, por Sua graça, colocar-me novamente na Sua presença. Foram anos de dúvidas e questionamentos até a metanoia gerada naquela estranha noite e na manhã seguinte, quando, com a ajuda de uma amiga, decifrei o sentido de tudo – do sonho, da minha vida e do vazio que eu alimentara anos seguidos. Mas agora, não. Não mais. Chega de procurar nas pessoas, nos livros, na ciência e no meu infeliz hedonismo o que eles não podem oferecer por um só motivo: não O têm. “Inveni cor meum” – repito, todos os dias, com São Bernardo de Claraval: “Encontrei meu coração”. Ele estava lá, escondido no Amor que, desde sempre, pulsa por mim. Como escreveu Chesterton, aos 48 anos, logo após sua Primeira Comunhão:

The sages have a hundred maps to give
That trace their crawling cosmos like a tree,
They rattle reason out through many a sieve
That stores the sand and lets the gold go free:
And all these things are less than dust to me
Because my name is Lazarus and I live.

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