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Arcebispo funda a Ordem das Virgens em Fortaleza e já há três candidatas

 As candidatas à ordem das virgens Samara Marcolino, Vitória Vasconcelos e Roberta Moreira com a madre Bernadete, dom Gregório Paixão e padre Evaristo Marcos As candidatas à ordem das virgens Samara Marcolino, Vitória Vasconcelos e Roberta Moreira com a madre Bernadete, dom Gregório Paixão e padre Evaristo Marcos | Arquidiocese de Fortaleza

 
 

O arcebispo de Fortaleza (CE), dom Gregório Paixão, publicou o decreto de fundação da Ordo Virginum (Ordem das Virgens) em sua arquidiocese, que já tem três candidatas.

O decreto foi assinado na segunda-feira (20), dia da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja. “Achei bastante inspirada essa data, porque a ordem das virgens é realmente uma resposta à Igreja no mundo todo, você aplica sua vocação dentro de uma diocese, mas aquilo reverbera para a Igreja inteira”, disse à ACI Digital Vitória Vasconcelos, uma das candidatas à ordem.

As virgens consagradas remontam ao início do cristianismo, a exemplo de santas como Luzia, Inês, Águeda, Filomena. Com o tempo a ordem foi perdendo importância, mas foi retomada depois do Concílio Vaticano II. Em 1970, o papa Paulo VI promulgou o novo Rito de Consagração das Virgens.

Segundo a instrução Ecclesiae Sponsae Imago sobre o Ordo Virginum, de 2018, a característica dessa vocação “é a inserção das consagradas na Igreja particular e, portanto, em um determinado contexto cultural e social: a consagração as reserva para Deus sem separá-las do ambiente em que vivem e no qual são chamadas a dar o próprio testemunho”. A instrução diz que as virgens consagradas “podem viver sozinhas, em família, com outras consagradas ou em outras situações favoráveis à expressão da sua vocação e à realização do seu projeto de vida concreto”.

A fundação da ordem das virgens em Fortaleza aconteceu depois de uma reunião no dia 27 de abril, no Carmelo Santa Teresinha, entre dom Gregório Paixão, padre Evaristo Marcos, madre Bernadette, OCD, e três candidatas à ordem: Vitória Vasconcelos, Samara Marcolino e Roberta Moreira.

Vitória contou à ACI Digital que o arcebispo ficou feliz ao saber do desejo de se criar o Ordo Virginum e, ao mesmo tempo, se disse surpreso, porque a arquidiocese tem diversas congregações, comunidades, dos vários carismas, “mas não tinha a primeira vocação consagrada que surgiu na Igreja”. “Acho que por isso ele teve certa urgência em nos acolher”, disse.

Embora a ordem já esteja fundada na arquidiocese, ainda não há uma data para a consagração das três candidatas. Elas são acompanhadas pelo padre Evaristo Marcos e estão em período de formação, que acontece no Carmelo de Santa Teresinha.

A vocação ao Ordo Virginum

Vitória Vasconcelos, 27 anos, está terminando a faculdade de História na Universidade Federal do Ceará (UFC). Desde criança, sente o chamado de Deus em seu coração, mas demorou cerca de 20 anos até descobrir onde se daria a sua consagração.

“Desde os sete anos eu desejo a vida consagrada. Quando eu fiz 12 anos, fiz caminho no Carmelo, uma experiência vocacional de acompanhamento e formação, de 12 aos 15, no ramo contemplativo”, recordou. Depois, teve uma “experiência no ramo ativo”, na comunidade italiana Regina Pacem, que já não existe mais.

“Eu achava que para me consagrar a Deus eu precisava achar um instituto, uma congregação, um carisma específico no qual eu encontrasse, com diz a definição de carisma, aquilo que é a faceta de Cristo que, vivendo aquela faceta, você abarca o Cristo inteiro”, disse. Por isso, Vitória se questionava qual era “essa faceta” que, vivendo, abarcaria o Cristo inteiro. “Eu tinha muito esse dilema sobre onde será. Conheço várias comunidades, ficava olhando, mas dizia não é essa, não é...”.

Durante a pandemia, ela estava morando em Salvador (BA), “ajudando uma obra chamada Obra Lumen, que abriu a casa para acolher mulheres e crianças em situação de rua”. Mas, também não se identificava com aquele carisma. “Eu pensava: ‘Meu Deus, quero tanto me consagrar e não me identifico com nada. Qual é o meu problema?’”, contou.

Foi em 2020 que Vitória se deparou com uma postagem no Instagram sobre o Ordo Virginum. “Eu disse: ‘É isso’. Porque é uma consagração à Igreja como um todo e você, junto ao seu diretor espiritual e o bispo, vai descobrindo em você a faceta que Deus pede”.

Em 2021, voltou para Fortaleza, “para minha paróquia, que é o seio da vocação também”. Ela recordou que estava tocando em uma missa e, ao final, o padre Evaristo, que tinha chegado há pouco tempo e, portanto, não a conhecia, a chamou para conversar. O padre perguntou se ela era consagrada e Vitória respondeu que não e que queria fazer um caminho para o Ordo Virginum, mas não conhecia ninguém para ajudá-la.

“Ele me disse: ‘Você vai ficar aqui, não vai voltar para Salvador, porque há muitos anos eu desejo implementar o Ordo Virginum em Fortaleza e você é a primeira que me aparece’. Foi assim, fácil. Eu, tanto tempo esperava, tanto tempo perguntava onde. E na minha paróquia, no lugar onde cresci, em casa, o pároco me chamou e teve essa conversa”, contou.

Com o tempo, outras mulheres foram aparecendo com interesse na vocação, embora Vitória não tivesse feito qualquer divulgação a respeito. “Essas jovens surgiram através de outras virgens que falam publicamente sobre isso na internet”.

As candidatas começaram, então, a se reunir, e o padre Evaristo pediu o auxílio do Carmelo para a formação delas. “O Carmelo que fez parte do meu caminho vocacional lá no começo volta para encerrar esse caminho de condução, porque me formaram criança, adolescente e continuam me formando agora, adulta”, disse.

Uma resposta do Espírito Santo aos dias de hoje

“Percebo que o Espírito Santo tem suscitado essa vocação porque ela é resposta para os tempos de hoje”, disse Vitória. Para ela, essa é uma vocação que está crescendo e “vem a calhar com as necessidades atuais”, em que “se percebe um mundo cada dia mais secularizado, cada dia mais indiferente a um discurso religioso”.

As virgens consagradas ajudam a “Igreja a estar mais inserida no meio da sociedade, nos trabalhos, nas áreas comuns de convivência”, disse Vitória. Como no seu caso, que faz um trabalho de divulgação da vida dos santos nas redes sociais e está no ambiente universitário, onde encontrou vários católicos que “estavam dispersos” e agora se uniram e têm momentos de oração e formação católica.

Mas, o fato de estar inserida no mundo também torna a vocação da virgem consagrada “muito exigente”. “Nós precisamos, em comunhão com Nosso Senhor e em oração, vigiar, estar muito alerta com relação à nossa vocação, a fidelidade à vocação. Como dizia Chiara Lubich, com os olhos no céu, mas ombro a ombro com os irmãos”, disse ao citar a fundadora do movimento dos Focolares.

Essa realidade da ordem das virgens, para Vitória, é o que “tem atraído muitas jovens”. “Não são ‘ex-freiras’, como alguns pensam, mulheres que tentaram várias congregações e não conseguiram”. Ao contrário, “é uma vocação peculiar”, onde “sinto que respondo aos apelos do Espírito Santo para aquele momento”.

Como virgem consagrada, disse, “vou traçar uma regra de vida com o diretor espiritual, com o bispo, que vai ter um afunilamento para aquilo que vou exercer no cotidiano. Mas, isso não impede a chegada de novas missões, de novas demandas. Se surgir e eu tiver condições, irei acatar. Isso que me atrai. Entender aquela faceta que adequada”.

“Podendo abarcar o que a Igreja me pede na minha arquidiocese, isso para mim já é amplo e ao mesmo tempo afunilado. E eu consigo responder como Paulo dizia: sendo tudo para todos, dentro da minha arquidiocese. O meu sim aqui reverbera na Igreja no mundo inteiro. Essa beleza que me identifica”, concluiu.

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