um Congregado inventor...
Tinteiro Econômico - São João del-Rei - MG |
|
José Viegas, em São João del-Rei - MG, no final da década de 1930 / ínício da de 1940. O tinteiro econômico revolucionou o meio estudantil! Era feito de alumínio e dotado de uma válvula de segurança que não deixava entornar a tinta e nem sujar as mãos, os cadernos e os uniformes, fato que aliviava o tormento de pais, mestres e estudantes; apresentava vantagem sobre o tinteiro tradicional de vidro, posto que não se quebrava. Esta peça pertence ao acervo do sr. Silvério Parada e foi fotografado por José Antônio de Ávila, em 25 de março de 2013. A respeito do Tinteiro Econômico, transcrevo aqui o precioso depoimento que, no dia 26 de março de 2013, recebi do intelectual são-joanense prof. Aluízio José Viegas: "José Antônio, com o “Tinteiro Econômico” do Dr. José das Chagas Viegas, você me fez abrir o baú da memória e como é impressionante a visão do passado, um passado relativamente não tão distante, mas que vivi de modo bem intenso. Na década de 1940, mais precisamente em 1947 meus irmãos Vicente de Paulo, Henrique Rafael, Tarcísio Gabriel, já eram congregados marianos, na Congregação Mariana São Tarcísio da Paróquia do Pilar. Já eram coroinhas no tempo do saudoso Padre Mário Quintão e ingressaram na Congregação como aspirantes. Nessa época era presidente da Congregação o Senhor Uriel Pio (às vezes seu nome era grafado como Huriel). A Congregação tinha um elevado número de congregados adultos – tanto solteiros como casados – e tinha sede própria numa parte do hoje conjunto de apartamentos da Paróquia. A sede tinha cadeiras fixas (como as do pequeno Teatro do antigo Ginásio Santo Antônio (hoje UFSJ) e também um palco onde se encenaram muitas peças, tanto religiosas como também comédias e coisas variadas, e, especialmente, era o ponto das reuniões semanais e dos encontros diários para atividades. Um dos adultos, Geraldo Aniceto Dias, apelidado Xisto (depois passaram acrescentar Xisto "Ximbanca", pela quantidade de rugas), era um dos líderes na promoção e montagem de peças teatrais. Após essa longa exposição vem uma explicação: O Xisto trabalhava na fábrica de Tinteiros do Zé Viegas, e acabou levando meus três irmãos para também trabalharem na fábrica como ajudantes. Meus irmãos, que estudavam na parte da manhã, trabalhavam só na parte da tarde e às vezes faziam serões, especialmente em noites de verão. Em 1948, com apenas sete anos, fui também trabalhar com eles. A fábrica ocupava todo o porão da casa do Zé Viegas e a entrada era pelos fundos. no portão que ainda lá existe; quando comecei a trabalhar, os tinteiros já eram feitos de folha-de-flandres, que o Zé Viegas comprava das aparas das confecções de latas da antiga Estamparia que fabricava vasilhames maiores para banha e manteiga com estampagem coloridas. Como para tinteiros se usava pequenos pedaços de latas, as aparas ficavam mais em conta para minimizar os custos do tinteiro econômico. As máquinas – prensas – para os cones, tampas e fundos do tinteiro foram projetadas pelo Dr. José Viegas, adaptadas de prensas adquiridas em segunda-mão. As peças específicas do tinteiro econômico, tanto o de alumínio como o de folha-de-flandres, foram moldadas e torneadas em aço pelo mais que hábil artesão Ivo Teixeira de Assunção e seus irmãos (do Presépio da Muxinga), e que trabalhavam nas oficinas da Rede Mineira de Viação aqui em São João del-Rei. Criou-se uma metodologia para melhor funcionamento da fábrica: quando chegava carregamento das aparas de folhas-de-flandres, a primeira atividade era cortar em duas máquinas tipo tesourão o que se poderia aproveitar e, por ordem de tamanho, tinha os caixotões para separá-las. Havia uma máquina que já cortava as aparas redondas para os cones; uma para as tampas e outra para os fundos. O tambor é que exigia as tiras maiores. Quando havia grande quantidade das aparas já preparadas, começava então o trabalho nas prensas. Primeiramente os cones; em seguida as tampas e depois os fundos. O cones então eram levados para outro setor: o de soldagem, e logo após acontecia a limpeza para retirar qualquer excesso do ácido usado na solda (ácido muriático abrandado com zinco). Paralelamente se moldava o tambor, que também passava por solda e a mesma limpeza. Após, essas peças passavam por um banho de betume derretido para impermeabilizar a parte interna. Havia ainda uma maquineta só para fazer o corte no cone para a passagem da pena de aço para a escrita. Feitas todas as soldas e as impermeabilizações, havia ainda um banho de parafina visando dar proteção contra vazamentos. Depois de colocada a tinta, feita de azul de metileno e como fixador ácido fênico, colocava-se uma rolha também feita usando-se parafina e uma pequenina haste de arame. Colava-se, então um rótulo. As próprias carteiras escolares para dois alunos, já eram fabricadas tendo no tampo um furo central, na medida exata para encaixe do tinteiro econômico. O restolho das aparas das folhas de flandres eram então vendidas para ferro-velho. Nada se perdia. Trabalharam ali: Geraldo Aniceto Dias (Xisto) meus irmãos e eu; Francisco Pimentel (Chico) que era o soldador; e como não poderia deixar de ser os irmãos Teixeira de Assunção, que davam manutenção nas máquinas. O meu primeiro pagamento por duas semanas de trabalh,o em 1948: Cr$2,00 (dois cruzeiros), No mês seguinte comprei com meu próprio dinheiro o primeiro par de sapatos marca “Tank”. Logo que começaram a surgir as esferográficas e mesmo as canetas tinteiro, não houve mais razão de se continuar fabricando o tinteiro econômico. No Grupo Escolar “João dos Santos”, ainda usei o tinteiro econômico, de 1948 a 1951. Bons tempos em que havia aula de caligrafia nos chamados “caderno de duas linhas”. Aprendia-se a segurar a caneta (haste de madeira com pena de aço), com leveza e diversas modalidades de letras. José Viegas chegou a elaborar várias outras invenções: torneira econômica (com graduador da quantidade de água a se gastar, e aí automaticamente a torneira travava). Terço do Rosário em que nas contas da contemplação dos mistérios, puxava-se uma fitinha de aço (como uma trena), e nela estava escrito o “mistério” a se contemplar. Vou dar de presente para o “Parada” uma haste de madeira e dois modelos de penas de aço que ainda tenho em casa. Aí poderão ficar junto ao “Tinteiro Econômico”.". |
|
Retirado de www.patriamineira.com.br |
.:: Tinteiro Econômico - São João del-Rei - MG ::.
Comentários