Onde os muito fortes não têm vez - Rodolfo Araújo
Onde os muito fortes não têm vez
Rodolfo Araújo
Recentemente lembrei-me um episódio em que minhas atitudes e comportamento mantiveram-me como figurante num cenário onde eu tinha tudo para ser o protagonista. Quando pleiteava uma vaga de gerente uns três anos atrás, descobri que eu não era uma pessoa fácil de lidar. Minha capacidade técnica era muito superior à dos outros candidatos à vaga, mas minhas habilidades sociais eram desastrosas, um verdadeiro handicap*.
Na ocasião, eu tinha dificuldades em controlar minhas emoções e era muito fácil perceber minha insatisfação através do meu comportamento – especialmente quando sabia que estava certo. Dia desses tive uma conversa com um amigo que passava por situações semelhantes, de onde surgiu o texto a seguir:
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Antes de ter o “estalo” sobre o que estava me atrapalhando, eu discutia com os outros nas reuniões tentando mostrar e provar o meu ponto-de-vista, enquanto eles permaneciam rígidos em suas posições. Muitas vezes eram pessoas bem acima de mim na hierarquia da empresa – o que me deu a fama de encrenqueiro e me estagnou por um tempo. Felizmente eu tinha um chefe que me apontava esse erro e, assim, consegui superá-lo. É fundamental, então, ter alguém de confiança que possa te alertar nesses momentos.
Se você não contar com uma pessoa assim próxima a você, terá que contornar esse problema através do seu auto-controle. Aí vai o conselho de sempre: conte até 10, 20 ou 50 antes de se envolver numa discussão. Veja se você realmente precisa expor sua insatisfação. Pense mais a frente e tente entender se isso é realmente importante e se vale a pena brigar, considerando o que você tem a ganhar ou perder. O que isso vai te acrescentar? Isso não pode ser resolvido depois da reunião, quem sabe numa conversa particular com a pessoa com a qual você discorda?
Quando você conseguir superar a fase de discordar abertamente, talvez venha a parte mais difícil, que é controlar suas reações. Às vezes, mesmo não dizendo nada, seu corpo está mostrando a sua insatisfação.
Nesse caso é preciso muito auto-controle mas, em primeiro lugar, reconhecer o que está fazendo. Peça a alguém de confiança que preste atenção em você numa reunião e depois te descreva suas reações. Controlar isso é muito difícil, mas se você não reconhecer o problema não vai vai poder corrigí-lo.
Quanto ao segundo problema – saber que está certo enquanto os outros estão errados – muitas vezes isso é mais uma briga de egos do que qualquer outra coisa. Poucas pessoas reconhecem quando estão erradas de forma humilde e sem ressentimentos.
Às vezes a gente se envolve em acaloradas discussões simplesmente por vaidade, para mostrar que estamos certos e os outros estão errados. Caso seja realmente algo imprescindível, mostre com tato e educação o seu ponto-de-vista. Faça-o de forma embasada e sem emoção. Uma árvore de decisão, com os resultados prováveis de cada alternativa (com probabilidades em porcentagens) pode ajudar a visualizar melhor o problema e escolher a solução mais vantajosa.
Muito cuidado com as palavras. Evite coisas como ‘Eu acho que…’, ‘Você não está entendendo…’ ou ‘Isso está errado porque…’. Tente formas mais conciliadoras como ‘Que tal se olhássemos por esse ângulo…’ ou ‘O que será que aconteceria se…’. Jogue as alternativas na mesa e deixe que os outros cheguem às conclusões que você já tem. Se parecer que a idéia é do grupo – e não sua – ela terá muito mais força e ninguém parecerá contrariado. E lembre-se sempre que, apesar de todas as suas convicções, ainda assim você pode estar errado.
Se mesmo assim você não convencê-los, tudo bem. Não faça disso um cavalo de batalha, ou você vai ficar dando murro em ponto de faca e ficará com imagem de cabeça-dura – coisa que será difícil se livrar mais tarde. Se no futuro algo der errado, evite a tentação de ficar dizendo ‘Eu avisei…’, porque isso não te levará a nada. Poucas coisas irritam mais as pessoas do que isso. Enganar-se já é suficientemente frustrante e ter alguém lembrando-lhe disso o tempo todo é ainda mais desagradável.
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* Muita gente usa o termo handicap como algo positivo, mas na verdade o termo significa uma debilidade ou desvantagem.
http://vocesa.abril.com.br/blog/rodolfo/2010/03/08/onde-os-muito-fortes-nao-tem-vez/
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