Possibilidades do jejum
Entrevista com Jean-Christophe Normand, animador de retiros
Por Marine Soureau
PARIS, domingo, 1º de março de 2009 (ZENIT.org).- «Sempre se sente muita angústia diante da idéia de privar-se de comida», constata Jean-Christophe Normand, animador de retiros, nesta entrevista sobre o jejum.
Ele reconhece que nesta prática «encontra-se em jogo uma autêntica conversão espiritual», ainda que «os frutos sejam diferentes segundo as pessoas». «O que está claro é que o jejum oferece respostas».
Jean-Christophe Normand é um leigo, pai de família, consultor em recursos humanos, assistente de direção de empresas, que anima retiros de iniciação ao jejum desde 2007.
Ele retomou o projeto lançado pelo teólogo suíço Harri Wettstein, que apresentava no mosteiro beneditino francês de Pierre-qui-Vire a experiência de um jejum de seis dias, segundo um método adaptado à nossa época. Normand oferece esta experiência também na abadia de São Guénolé de Landévennec, em Bretanha.
Zenit o entrevistou ao começar esta Quaresma na qual Bento XVI propôs redescobrir o valor do jejum, que «pode ajudar-nos a mortificar nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e sumo mandamento da nova lei e compêndio de todo o Evangelho.
Benefícios espirituais
Antes de tudo, explica que o jejum é um campo adaptado para permitir uma «autêntica conversão espiritual».
«As pessoas que vão aos nossos retiros, às vezes não crentes, estão em busca. Uma busca que tomará corpo durante a semana e à qual não sempre são capazes de dar um nome. Diante desta proposta da mudança, o jejum oferece recursos para dar este passo.»
«Para ajudá-los, se propõem-se momentos de acompanhamento individual com um monge, ainda que não se impõe nada. As pessoas que vêm têm necessidade de ser guiadas. Durante o retiro, realiza-se um trabalho considerável em cada pessoa e, em geral, têm necessidade de expressar o que sentem.»
«Este retiro oferece também a oportunidade de acompanhar os ofícios litúrgicos dos monges beneditinos e a vida de sua comunidade. Nós lhes propomos procurar viver a liturgia e entrar nela, ver como se desenvolve.»
« No dia em que nos despedimos, fazemos um balanço. Então, as pessoas conseguem colocar um nome ao que vieram buscar. Os frutos dependem de cada pessoa, mas o certo é que o jejum oferece respostas.»
Superar o medo e a privação
No âmbito psicológico, continua dizendo Normand, o jejum permite enfrentar «o medo da privação».
«É muito estimulante dar-se conta de que é possível conseguir. Em último termo, isso dá uma confiança pessoal muito forte: meu corpo tem recursos para viver períodos de escassez!»
Através do jejum, percebemos também as disfunções da nossa alimentação. Há pessoas que fazem excessos: isso permite tomar distância, reencontrar uma forma de higiene de vida, de bem-estar.
Normand reconhece que o jejum não é algo natura l, pois «sempre provoca muita angústia a idéia de privar-se de alimentação».
«Ao colocar-nos em uma posição de humildade, renunciamos ao nosso apetite de poder. Vamos compreender o que é realmente necessário em nossas vidas e o que não é. Neste trabalho de introspecção e de distanciamento se compreende o que é excessivo em nossas vidas.»
Dimensão caritativa
Segundo o animador dos retiros, o jejum não é algo egoísta. «Não se jejua para si mesmo – adverte. O jejum nos abre aos demais e à vida de caridade. Por este motivo, propomos sistematicamente, ao final do retiro, que façam uma doação, que apoiem uma obra.»
«Assim, vivemos plenamente os carismas associados à vida de Cristo – conclui. Além da alegria do bem-estar fí sico, experimentamos a alegria de estar em comunhão com nossos irmãos e irmãs.»
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