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Movimentos: um exame de consciência

“Está disseminada hoje, aqui e ali, mesmo em ambientes eclesiásticos elevados, a idéia de que uma pessoa é tanto mais cristã quanto mais está empenhada em atividades eclesiais. A pessoa é levada a uma espécie de terapia eclesiástica da atividade, do ter o que fazer: procura-se assinalar um comitê para cada um ou, em todo caso, ao menos um grande compromisso dentro da Igreja. De certa forma, pensa-se, deve haver sempre uma atividade eclesial, deve-se falar da Igreja, deve-se fazer alguma coisa por ela ou nela. Mas um espelho que reflete apenas a si mesmo não é mais um espelho. Uma janela que, em vez de permitir um olhar livre para o horizonte distante, se interpõe como uma tela entre o observador e o mundo, perdeu o seu sentido. Pode acontecer que alguém exerça ininterruptamente atividades associativas, eclesiais, e todavia não seja realmente um cristão. Pode acontecer, em vez disso, que algum outro viva simplesmente apenas da Palavra e do Sacramento e pratique o amor que provém da fé, sem nunca ter comparecido a comitês eclesiásticos, sem nunca ter-se ocupado das novidades da política eclesiástica, sem ter feito parte de Sínodos e sem ter votado neles, e todavia é um verdadeiro cristão. Não é de uma Igreja mais humana que precisamos, mas de uma Igreja mais divina; só então ela será também verdadeiramente humana... Quanto mais aparatos construímos, ainda que sejam os mais modernos, menos espaço há para o Espírito, menos espaço para o Senhor, menos liberdade há. Eu penso que deveríamos, deste ponto de vista, começar na Igreja um exame de consciência em todos os níveis, sem reservas”.

(Cardeal Joseph Ratzinger, conf. Cardeal Silvano Piovanelli em Captar o essencial com clareza, 30 Giorni, nº 12, ano XIX - destaques nossos)

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