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Masturbação: menos moral e mais ciência


Um médico psiquiatra fala sobre a realidade dos seus pacientes


 Dr. Carlos Chiclana, médico psiquiatra.



Peço-lhe que leia este texto sem preconceitos morais nem religiosos.

Acho decepcionante que se dedique dinheiro público ou privado para promover a masturbação como um comportamento sexual saudável. Os pediatras, educadores e psicólogos infantis sabem que, em algumas etapas do desenvolvimento da pessoa e da sua personalidade, este hábito pode estar presente de forma esporádica. Mas eu me atrevo a afirmar que a prática da masturbação como um hábito não é benéfica para quem a sofre.

Digo "para quem a sofre" porque é sofrimento que vejo nas pessoas que chegam ao meu consultório por este motivo. Não são pessoas estranhas, de forma alguma. Mas elas têm um problema e querem resolvê-lo: a masturbação. Não é necessário que o médico lhes diga isso; são elas mesmas que consideram que isso é uma escravidão, uma perda da liberdade. E pedem ajuda.

A maioria quer resolver a questão porque se sente aprisionada, porque percebe que está fechada em si mesma, porque lhe resulta difícil relacionar-se com seu cônjuge e com outras pessoas, porque isso gera desordem interior e desassossego, ao ir perdendo autonomia e capacidade de decisão.

Alguns podem pensar: "Mas que médico louco é este que escreveu o texto? De onde ele saiu? Que besteiras está falando! Isso não acontece com ninguém!". Infelizmente, atendo pessoas com este problema todas as semanas. Ainda bem que ainda existem pessoas que não têm vergonha de pedir ajuda na busca da própria felicidade. São pessoas incríveis, admiráveis, com problemas muito comuns, como no caso da masturbação.

Quando falo de problemas, não me refiro às bobagens que você pode ler por aí (que a masturbação provoca cegueira, epilepsia, paralisia, acne etc.). Isso são invenções. Mas não são invenções os maus bocados pelos quais passam aqueles que não conseguem exercer sua liberdade porque precisam se masturbar sim ou sim, por acúmulo de excessiva tensão emocional, por impulsividade, por dificuldades nas relações interpessoais, por traços de personalidade narcisista ou evasiva, porque receberam uma educação sexual errônea, porque desenvolveram uma aprendizagem comportamental simplista, baseada na satisfação do prazer, ou por imaturidade global da sua pessoa.

Vemos, portanto, que o interessante não é tanto observar os problemas de tal conduta, mas por que esta pessoa precisa da masturbação para equilibrar sua vida, ou por que não consegue desenvolver uma sexualidade harmônica com seu projeto vital. Outros utilizam o álcool e outras drogas, a comida etc.

É preciso realizar um trabalho preventivo que diminua a incidência destes problemas, e também que responda a eles quando já estão presentes, ao invés de promovê-los ou considerá-los em abstrato, sem atender cada pessoa integralmente, de acordo com suas necessidades e interesses.

Podemos considerar que já superamos a crise de 68, a revolução sexual. É hora de amadurecer, de buscar a excelência e ser líderes sexuais de nós mesmos, sem ficar presos a tabus, convenções sociais, morais e religiosas, nem considerar-nos o adolescente imaturo que tem direito a tudo porque é o rei da cocada branca.

Vivemos em uma sociedade hiperssexualizada, na qual são promovidos como normais (provavelmente por ignorância) comportamentos que não o são, ou que são expressão de problemas psicológicos ou psiquiátricos. Algumas vezes, os jornais são autênticos tratados de psicopatologia.

Concordo totalmente com um internauta que comentava: "Não há nada pior que viver com medo e reprimido". De fato, não favorece a pessoa ter medo da sexualidade. Tampouco a beneficia reprimir-se (dizer-se "não" por resignação), seja quais forem os motivos, e com o significado de negação.

Nem tampouco sublimar e pronto, em dois sentidos. Em primeiro lugar, no sentido de ordenar a sexualidade sem vivê-la por um bem maior (moral, religioso, por saúde etc.). Em segundo lugar, no sentido de vivê-la sem ordená-la, também pelo que consideramos um bem maior (prazer, deleite, libertinagem). Em ambos os casos, a pessoa degrada, invalida e desvaloriza a sexualidade.

A sexualidade saudável não é sublimada nem reprimida, mas integrada no projeto vital de cada um, de acordo com seus critérios pessoais. Para poder integrá-la, precisamos adquirir as habilidades necessárias, que, a meu ver, são as seguintes: conhecimento pessoa, ordem, proatividade, sentido de pertencimento a um grupo, confiança pessoal, determinação, iniciativa, saber descansar, amizade, racionalidade, afetividade rica e abundante.

Frequentemente, os problemas na vivência da sexualidade são acompanhados de outras circunstâncias que podem nos servir para identificar as habilidades que precisamos desenvolver para manter-nos no caminho da integração.

Resumo estas circunstâncias no seguinte quadro:
  
CIRCUNSTÂNCIAS QUE ACOMPANHAM HABILIDADES A SEREM ADQUIRIDAS
Desconcerto. Surpresa Conhecimento pessoal
Desordem. Falta de horário Ordem
Preguiça. Não fazer o que se deve fazer Proatividade. Diligência
Egocentrismo. Narcisismo. Individualismo Sentido de pertencimento a um grupo
Medo do ambiente Confiança pessoal
Indecisão Determinação, segurança
Tédio, perda de tempo Iniciativa
Esgotamento, abatimento Saber descansar
"Raciocínio" emocional Racionalidade
Sentimentalismos infantis Afetividade rica e abundante
Colegas e amigos oportunistas Amizades verdadeiras

Enfim, todos estes comentários surgiram com o propósito de explicar por que sou contra a ideia de promover a masturbação entre os jovens.

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