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Na mesa uma
menina, de uns seis ou sete anos e o pai, um homem de meia idade, terno e
gravata. A menina ainda almoçando e ele, um pouco impaciente, querendo
ir embora.
Nessa hora,
meio dia, o Fellini, na General Urquiza, é uma confraria da terceira
idade. Todos os velhinhos do Leblon de outros tempos se reúnem, formam
um mar de cabelos brancos. Parecem todos amigos. Hoje, no meio daquele
oceano, estávamos eu e, duas mesas na minha frente, o pai e a filha.
De repente o
pai, já sem paciência, fala de uma maneira mais ríspida e a menina
começa a chorar. Entre lágrimas diz que quer a sobremesa que ele
prometeu. O pai responde que não dá, estão atrasados para a escola,
precisam ir embora.
As lágrimas comovem a todos. O mar de cabelos brancos está revolto.
Há um
impasse: o pai não cede, a menina não para de chorar. Ele quer, com a
melhor das intenções, dar limite e responsabilidade à filha. Ela não
consegue entender porque não tem direito à sobremesa, se comeu toda a
salada e o feijão. Os dois tem razão.
A confraria se entreolha.
Duas
senhorinhas, sentadas perto da saída, levantam e vem lentamente em
direção ao pai e a filha. Uma usa uma bengala. É ela que abraça a
menina. Abraça mesmo, com força. Diz que tudo vai ficar bem, que o pai
só quer o melhor para sua família. A menina para de chorar. A outra fala
com ele, diz que criança é assim mesmo, precisa ter paciência, muita
paciência, todas dão trabalho. O pai parece ceder. Porque voces dois não
vão tomar um sorvete depois da aula? Ele percebe a deixa, faz a
proposta, a menina concorda e sorri. Vão embora.
As senhorinhas voltam, lentamente, para a mesa. O mar branco já está tranquilo outra vez.
Quando saio
passo pela mesa delas. Sorrio e comento que não é fácil. Elas sorriem de
volta e me explicam que também não é difícil.
Já tenho cabelos brancos, mas ainda são poucos.






fonte:

TONTOMUNDO

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