TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE (TFP)
revista PERGUNTE
E RESPONDEREMOS 398 – julho 1995
Testemunhos
Em
síntese: "Tradição Família e
Propriedade" é uma sociedade que se diz católica, mas faz restrições ao
Concílio do Vaticano II eà Igreja
pós-conciliar. O seu fundador éoDr.
Plínio Corrêa de Oliveira, que em São Paulo reuniu, na década de 1950,
um grupo de congregados marianos para
desenvolverem piedade e apostolado. Toda via a estima e a veneração do
mestre-fundador tem degenerado, segundo o testemunho de egressos da Sociedade, tornando-se
uma quase servidão ao Dr.
Plínio. Também o culto à falecida mãe do
Dr. Plínio – D. Lucília -
tem tomado proporções que exorbitam os
parâmetros da praxe católica. Ao lado dos defensores da TFP, que propugna o
combate ao comunismo, há os que acusam a sociedade de estar manipulando seus
adeptos em nome de uma piedade que já não é puramente católica. -
O artigo que se segue, se baseia no livro
de um egresso da Sociedade, o Sr. Giulio Folena, que professa estar referindo
fatos autênticos.
* * *
Existe
no Brasil uma Sociedade, com quatorze ramificações
no estrangeiro, chamada "Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade" (TFP). Distingue-se por
suas campanhas públicas, seus trajes, seus estandartes, seu jornal CATOLICISMO
e outras publicações. Suscita, porém, indagações no plano religioso. Passamos a
analisá-la na base do depoimento de Giulio Folena, que de 1957
a 1964 foi
membro atuante da
TFP e voltou a ter contato com
a Sociedade em 1978, após
a ter deixado. Este cidadão conheceu, por experiência e por pesquisas
realizadas junto a testemunhas no Brasil, em Madri
e em Roma, o Regulamento, os objetivos
e o
fundador-presidente da TFP. Indignado
com o que presenciou e ouviu, escreveu o livro "Escravos do Profeta",
EMW Editores 1987, São
Paulo (SP). A documentação e as notícias aduzidas parecem fidedignas, embora
apresentadas em tom passional. A
TFP não respondeu às alegações de G. Folena, como havia respondido a ataques
anteriores. - Não
conhecemos obra tão completa publicada em data posterior. É possível que de 1987
aos nossos dias algo tenha evoluído na TFP;
como quer que seja, o livro de G. Folena retrata bem a mentalidade e as
práticas básicas da TFP
1.
ORIGEM E HISTÓRICO DA TFP
O
fundador da TFP é o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira (PCO), em nossos dias
octogenário, deputado à Constituinte em 1934. Era
congregado mariano militante, diretor do jornal O LEGIONÁRIO,
da Federação das Congregações Marianas em
São Paulo.
O
Sr. Arcebispo de São Paulo, D. Carlos Carmelo Motta, desejou dar à sua
arquidiocese um jornal mais moderno e, por isto, fundou O SÃO PAULO, ao mesmo
tempo que afastou o Dr. Plínio Corrêa de Oliveira da direção dos Serviços de
Comunicação da arquidiocese. Este resolveu então fundar o Grupo Joseph de
Maistre (1), com dez congregados marianos. Nascia assim a Sociedade que um dia
tomaria o nome de TFP. Esta tinha duas faces: era, por suas origens mesmas e
por sua profissão de fé, uma entidade religiosa católica, mas em 1960
foi registrada em cartório como
"Sociedade cívico-cultural e filantrópica". Tinha em mira combater o
progressismo dentro da Igreja Católica, chegando a opor-se ao clero e
considerando a Judeo-maçonaria como sua adversária mais ferrenha, responsável
por todos os males que afetam a
Igreja e a sociedade civil. Essa pretensa defesa da religião católica tinha
aspectos de anormalidade.
1 Joseph
de Maistre (+1821) foi um pensador francês, ardoroso defensor da autoridade do
Papa punido com um jejum de 24
horas a pão e água, ou caminhadas
quilométricas ou quatro horas ininterruptas de audição de fitas gravadas dentro
da TFP ou ainda a recitação de orações durante quatro horas consecutivas.
Com
efeito, PCO desde cedo se revelou uma personalidade estranha. Concebeu horror à
sexualidade e, indiretamente, aversão
ao sexo feminino (com exceção de
sua mãe, D. Lucília, como se dirá adiante). Em compensação, era dado a um falso
misticismo, julgando ter dons de clarividência e profecia, em virtude dos
quais, posteriormente, afirmou ser maior do que o profeta Elias ou do que todos
os profetas, quase equiparado ao próprio Deus. Os membros do Grupo eram
dirigidos por Plínio Corrêa de Oliveira com autoritarismo; os que não o agüentaram,
deixaram a Sociedade, ao passo que os
remanescentes conceberam dependência subserviente em relação a Dominus Plinius.
Com
o tempo, as tendências de PCO foram-se revelando sempre mais dominadoras. Um
dos principais redutos da Sociedade é o Ermo de São Bento, situado no Jardim
São Bento, zona Norte de São Paulo. Cedido a PCO, o prédio antigo, com a ajuda
de dólares norte-americanos, tornou-se uma
fortaleza medieval, na qual se guardam documentos que os não-iniciados nunca
poderão conhecer. Lá vivem dezenas de homens, de várias idades, sob regime
claustral severo, em celibato, obedecendo a um Ordo ou Regra de Vida; esta tem em
mira ensinar a imitar o tipo de vida e os hábitos de PCO, que, sendo idoso e
enfermo, é dependente de vários remédios, mas passa por homem carismático. À
guisa de exemplo, seja citado o seguinte tópico do Ordo: é preciso dormir de
barriga para cima, nunca se virar para os lados; deixar permanentemente os
braços fora das cobertas, uma das mãos pousada no peito ou sob o travesseiro;
dormir de calça e camisa; colocar um retrato de PCO ou de sua mãe D. Lucília ao
lado da cama... Há normas minuciosas para o despir-se
e o vestir-se, para
tomar banho, para usar as privadas... Quem não se adapta a estas prescrições,
incorre em "pecado mortal", como diz o Ordo;
pode ser
Eis
outras penitências: andar de quatro, andar com o travesseiro nas costas, andar
com roupas pelo avesso, colocar creme de barbear no rosto até secar, ficar com
o rosto voltado para a parede durante certo tempo.
O
Ermo de São Bento é o bastião donde partirá a direção do embate final (chamado
Bagarre), em que as forças do bem sobrepujarão o mundo pecador -sensual, ateu e
materialista-, cuja vitória momentânea (lei do divórcio, reforma agrária,
movimentos pró-aborto...) se deve à tibieza da Igreja, chefiada por agentes de
Satanás.
No
prédio do Ermo há um corredor chamado "Galeria das Vinganças"; aí os
"eremitas" realizam caminhadas marciais ao longo de seus 50
metros de extensão; a disciplina é rígida e
recorre ao "passo-de-ganso".
Na
comunidade desses eremitas não são admitidos nem judeus, nem negros nem
eslavos, contra os quais há severos preconceitos.
Muitos
outros episódios se poderiam relatar para caracterizar a vida interna da TFP. O
que está dito, seja suficiente para despertar a pergunta: qual a filosofia
subjacente a tais práticas?
2.
A FILOSOFIA RELIGIOSA DA TFP
A
"Bíblia" da TFP é o livro intitulado "Revolução e Contra-revolução",
da autoria de PCO.
Para
o autor, a época ideal da história é a Idade Média, à qual é preciso retornar.
Tal período foi abalado por três revoluções: a da Renascença (século XV), a
Revolução Francesa (1789) e
a Russa (1917). A
Idade Média é o modelo, pois havia então classes bem definidas: a nobreza e o
povo: não se andava à busca de liberdade nem igualdade de classes, mas se
almejava um fim mais elevado: o Reino de Deus.
A
Renascença substituiu o teocentrismo pelo antropocentrismo; os valores
sobrenaturais foram removidos em favor da cultura antiga pagã (humanismo). A
Companhia de Jesus, fundada para combater essas tendências, não atingiu o seu objetivo.
A
Revolução Francesa apregoou "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" ou
a destruição dos privilégios da nobreza e do clero. Isto
implicou um golpe mortal no Reino de Deus e
a segunda vitória do demônio. PCO
pretende ter origem nobre; por isto declara que a nobreza é a obra-prima
da criação. A instituição da república, que
toma o lugar da monarquia, é outro golpe desferido pela Revolução Francesa
contra a civilização cristã; a única rima possível para a república, segundo
PCO, é a mulher pública, que ele repudia.
A
Revolução Russa em 1917 foi
o total destronamento de Deus. Pregando a igualdade de todos os homens numa
sociedade sem classes, o bolchevismo disseminou a erva daninha que sufoca os
valores da já combalida civilização cristã. Desprezando os valores
tradicionais, a sociedade se apega aos modismos: jeans, coca-cola,
rock, conjuntos habitacionais...; Brasília,
com sua padronização arquitetônica, é
cidade abominada pela TFP; a escola acessível a todos é inaceitável, pois
acabará destruindo a hierarquia.
Por
isto também PCO condena o Papa, que procura aproximar-se
do povo, viajando pelo mundo inteiro e
fomentando o igualitarismo. A mesma reprovação merece a Liturgia renovada, pois
ela "empobrece" a grandiosidade da Igreja. Nem Mons. Lefèbvre nem
Gustavo Corção suscitam a simpatia de PCO, que os tem na qualidade de falsos direitistas.
Somente a TFP está a salvo de desvios. Pois
a ela toca uma missão superior à dos Apóstolos; estes tiveram que cristianizar
o mundo, ao passo que a TFP o deve recristianizar -
o que é muito mais difícil, por causa das
mazelas acumuladas e do igualitarismo. Aos jovens membros da Sociedade é
prometida a elevação à condição de anjo, tal a grandeza da missão que lhes é
confiada; quem acredita nisto, não mede sacrifícios, chegando a aceitar a plena
submissão ao profeta. Quanto a este, é tido como o maior de todos os doutores
da Igreja; donde a "honra" de lhe ser subserviente. A "Oração do
Resto", composta pelo Prof. Plínio
em 1975 dizia:
"Eu sou a grandeza! Eu tenho a força dos confessores, a coragem dos
mártires, a obediência de S. Inácio, a grandeza de S. Gregório Magno, a pobreza
de S. Francisco de Assis!".
Além
de "Revolução e Contra-Revolução", a TFP tem, para exclusivo uso dos
seus membros, a obra "Manifestação", de caráter
secreto. Este livro exalta muito
especialmente os "carismas" de PCO; este é tido como a alma do Reino
de Maria ou, melhor, é Maria. As reuniões em que Plínio se manifesta aos
discípulos, abordam questões relativas às virtudes, à inerrancia,
à imortalidade... de Plínio.
3.
O PROFETA
Os
ex-seguidores do Dr.
Plínio referem fatos muito estranhos a respeito do mestre e de seu
relacionamento com os discípulos. É possível que essas narrativas sejam
inspiradas por certa dose de paixão unilateral, tendente ao facciosismo.
Todavia existem declarações registradas em cartório nos termos utilizados pelo
declarante. A título de informação, seja aqui transcrita a seguinte peça,
extraída do citado livro de Giulio Folena, pp. 173-175:
DECLARAÇÃO
"Luís
Felipe de Freitas Guimarães Abias, RG 3.706.587, SP,
solteiro, residente em Curitiba, à Av. Manoel Ribas na 418
(Mercês), declara para bem da verdade que:
quando pertencia à TFP, Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, da Família
e Propriedade, em 1967, entrou
para uma sociedade secreta existente no seio da entidade e que se intitulava
"Sagrada Escravidão", conhecida também por seus membros como
"Sempreviva".
Os
membros dessa sociedade se consagravam como escravos a
Dr. Plínio Corrêa de Oliveira no mesmo sentido
em que S. Luiz G. de Montfort recomenda que se faça consagração a Nossa
Senhora. Para a consagração como escravo ao Dr.
Plínio usava-se
o mesmo texto de S. Luiz para a consagração
a Nossa Senhora, com ligeiras adaptações. Fazia-se
isto porque se considerava que Dr.
Plínio tinha de tal maneira a mentalidade
de Nossa Senhora que ele era um só com o Coração Imaculado e Sapiencial
de Maria. Os membros da sociedade rezavam
diariamente a oração da Sagrada Escravidão composta por
Dr. Plínio.
"Ó
Coração Imaculado e Sapiencial de
Maria, nesse ambiente de nossos dias em que todos são homens livres, ébrios de
liberdade, sei que me fiz vosso escravo para ser como o último dos homens de
quem Meu Senhor (Dr. Plínio)
pode dispor como o mísero objeto
sem vontade própria.
Nesse
ambiente de nossos dias em que tudo fala de naturalismo, sei que minha vida é
toda sobrenatural. Não sou eu quem vive, mas é Meu Senhor (Dr.
Plínio) que vive em mim. Dele me vêm todas
as graças, o espírito dele me habita e posso fazer, nessa união de escravo,
tudo quanto ele mesmo pode.
Nesse
ambiente de nossos dias. sem grandeza, sem horizontes, de otimismo
e de vidinha, sei que nossa época trará
acontecimentos grandiosos, com horizontes grandiosos, dentro dos quais deverei
viver como herói a própria grandeza de Meu Senhor.
Olhando
para dentro de mim mesmo e vendo tanta microlice, sei que a fé em tudo quanto
acabo de dizer me dará participação na própria grandeza de Meu Senhor (Dr.
Plínio) e fará de mim um perfeito Apóstolo
dos Últimos Tempos, segundo a oração profética de S. Luiz Maria Grignon de
Montfort.
Em
tudo isto eu creio, mas óh Meu Senhor (Dr. Plínio)
ajudai a minha incredulidade".
Rezava-se
também uma paródia da Ave-Maria para ele
que reunia o profetismo de S. Luiz, de santo Elias e dele mesmo:
"Ave
Luiz Plínio Elias (nome oficial do Dr.
Plínio na Sagrada Escravidão), cheio de
amor e de ódio, a Ssma. Virgem é convosco, bendito sois vós entre os fiéis, e
bendito é o fruto do vosso amor e ódio -, a
Contra-Revolução.
Ó
sacral Luiz Plínio Elias,
pai admirável e catolicíssimo da Contra-Revolução e do
Reino de Maria, rogai por nós, capengas e pecadores, agora e na hora de nossa
morte. Amém".
Rezavam-se
terços em conjunto com essa Ave-Maria. As reuniões começavam rezando essa
"Ave-Maria", a oração da Sagrada Escravidão e as jaculatorias:
Ave Plínio Elias filho bem amado da Ssma. Virgem; Ave
Luiz Plínio Elias, pai admirável e catolicíssimo da Contra-Revolução e do Reino
de Marina; Ave Luiz Plínio Elias escravo fidelíssimo
do Imaculado e Sapiencial
Coração de Maria.
Havia
também uma ladainha para ele que se dizia ter sido composta por Marcos Ribeiro
Dantas (escravo Plínio Paulo). Uma das
jaculatorias era "Precusor de Elias, rogai por
nós".
Dr.
Plínio dava a bênção aos seus escravos. Às vezes eles a
recebiam deitados no chão, com o rosto voltado para cima, e então Dr.
Plínio punha o seu pé direito sobre o rosto deles e
dava a bênção dizendo: "Benedictio Matris et Mediatricis descendat
super te et maneat semper".
Era
costume os escravos do Dr. Plínio
se confessarem com ele, contando-lhe faltas e mesmo pecados. Finda a acusação,
se o escravo pedisse uma penitência, era costume que
o Dr. Plínio desse então três bofetadas no rosto
do escravo. A seguir ele dava a bênção.
A
introdução na "Sempreviva" se fazia por meio de uma cerimônia que
durava horas, no 22 andar da rua Alagoas e às vezes em outros
locais. Dr. Plínio
ficava sentado num troneto com o hábito e manto da Ordem Terceira do Carmo. Os
assistentes usavam o hábito sem capa. A pessoa que ia ser introduzida na
sociedade simulava estar morta, prostrada no
chão diante de Dr. Plínio.
Depois recebia a ordem de se levantar para uma nova vida quando o
Dr. Plínio dizia: "Exsurge". Isto
simbolizava que a pessoa havia morrido e havia nascido um novo homem, um
escravo do profeta, um apóstolo dos últimos tempos.
A
pessoa fazia então a consagração como escravo ao Dr.
Plínio, entregando-lhe todo seu ser e seus bens
materiais e espirituais, por meio da entrega de objetos simbólicos. Desse modo
o escravo ficava dele, na qualidade de objeto. Dr.
Plínio tinha direito absoluto sobre o escravo como no
direito romano, exceto à vida. Daí chamarem-no "Dominus Plinius".
A
cerimônia prosseguia pelo ósculo dos
pés e das mãos do profeta por parte do escravo. A seguir, o
Dr. Plínio deixava o trono e nele entronizava
seu novo escravo, pois este era então um novo Plínio. Dr.
Plínio beijava então os pés e as mãos do seu novo
escravo. Graças à união transformante
que se dava entre eles, um vivia no outro. O escravo
era um novo Plínio. Por isto adotava o nome de Plínio, mais o de um padroeiro e
um título de Nossa Senhora. Eu, por exempío, tomei o nome de
Plínio Bernardes Dimas Longinos
de Nossa Senhora Rainha Sagrada dos Apóstolos
dos Últimos Tempos. Eu era conhecido como Plínio Dimas.
Não se podia comunicar aos demais membros da TFP a
existência da "sagrada escravidão", como é óbvio por se tratar de uma
sociedade secreta...
Falando
de seu poder e de seus escravos, Dr. Plínio
perguntava: 'O que é ser papa em comparação com isto?'
Dizia-se
entre os escravos que o 'Segredo de Maria' de que fala S. Luiz de Montfort
seria provavelmente a instituição da Sagrada Escravidão ao Dr.
Plínio.
Dr.
Plínio passou a ser designado pelo codinome de 'Maria'.
Por isto escravo de Maria era escravo de Plínio.
Era
costume que os escravos se ajoelhassem diante de
Dr. Plínio pedindo-lhe graças. Por exemplo. Cosme
Becar Varella Hijo,
na sua consagração pediu a 'Meu Senhor', a graça de ficar viúvo.
Quero
declarar também que eu pessoalmente fiz uma consagração como filho da D. Lucília
de joelhos no túmulo dela na presença de
Dr. Plínio Corrêa de Oliveira e de seus
guardas.
Curitiba, 24 de agosto de 1984.
Luiz Felipe de Freitas Guimarães Abias
Testemunhas
deste depoimento:
Orlando Fedeli
Giulio Folena
1.433.401 2.481.149"
Este
documento parece autêntico, pois a TFP lhe respondeu sem contestar as denúncias
contidas no mesmo, mas tentando apenas dar-lhes uma justificativa baseada na
doutrina da escravidão marial de
S. Luís Maria Grignion de
Montfort.
Tal
documento fundamenta a observação de G. Folena segundo a qual PCO poderá ser um
novo Jim Jones, que,
abusando de autoridade, provocou a morte de seus seguidores por
autoenvenenamento. Pode-se desculpar a conduta de PCO atribuindo-lhe paranóia
ou demência, mas não se podem tolerar os males que decorrem da prepotência
megalomaníaca do mentor da TFP.
4. A FIGURA de Dona
LUCÍLIA
Lucília
Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira era uma senhora
da sociedade paulista bem educada e sorridente, mas um tanto arredia
ao fervor religioso. Fez sua primeira confissão sacramental
aos trinta anos de idade, quando se preparava para o
casamento. Sua vida era correta, mas não se caracterizava por especial cultivo
da santidade. Todavia entre Lucília e
seu filho Plínio sempre houve profundo relacionamento afetivo. Ele a chamava
"Lu" e ela o tratava como "Manguinha".
Após
a morte de D. Lucília (1969),
o Dr. Plínio houve por bem devotar-lhe um culto de veneração que só cabe aos
Santos ou que excede mesmo a costumeira veneração dos Santos. O túmulo passou a
ser guardado pelos militantes; em cada sede da TFP começou a haver escalação
para visita, a ponto que esta se tornou obrigatória para alguns teefepistas.
Por ocasião da exumação dos
restos mortais, acreditava o Dr. Plínio que se encontrassem ainda incólumes - o
que não se deu, para decepção do mestre e de seus discípulos. Em alguns núcleos
da TFP são distribuídos bombons "mandados
pelo além"; junto aos bombons vem
sempre um bilhetinho carinhoso
assinado por a tua Lu com letra semelhante à da falecida; as mensagens dizem
geralmente: "Você precisa de ser mais obediente", "Você precisa
de se aplicar mais", "Você precisa de rezar mais o terço, mais jaculatórias...".
Existe
mesmo uma "Ladainha de D. Lucília",
em que a falecida é invocada como "Mãe do
Inefável, Mãe dos séculos futuros, Fonte da Luz, Medianeira
de todas as Graças, Vaso de Lógica, Vaso de
Metafísica...". O Sr. Bispo de Campos falecido, D. Antônio de Castro Mayer
(infelizmente adepto do cisma de D. Lefèbvre),
desaprovou formalmente esse tipo de prece "como absolutamente condenável e
a ser terminantemente... proibida
para quem pretende ser verdadeiro fiel no Povo de Deus" (cf. G. Folena,
ob. cit. p. 162). Aliás, D. Castro Mayer, a
princípio colaborador de PCO, separou-se dele e desligou-se de qualquer
eventual vínculo com a TFP.
5.
O VOCABULÁRIO DA TFP
A
TFP possui seu jargão específico, sendo que alguns termos do mesmo só podem ser
entendidos pelos iniciados. Eis alguns exemplos:
O
Dr. Plínio é o "profeta", inerrante e imortal; é o "pai" de
todos os militantes. E "senhor" de tudo e de todos na seita. Por isto
os mais convictos adeptos se consagram a Plínio como escravos; e tomam o
prenome de "Plínio" (assim "escravo Plínio Maria, escravo Plínio
Eduardo, escravo Plínio Luiz, escravo Plínio Fernando..."). Na linguagem
da TFP percebe-se a ambigüidade das expressões "nosso senhor" e
"nosso pai", pois se podem referir tanto a Deus como a Plínio Corrêa
de Oliveira.
Uma
das expressões mais utilizadas é "bom espírito": significa
"devoção, submissão, sujeição". O discípulo deve pautar seu modo de
pensar e suas inclinações segundo os de PCO. Assim se Plínio segura os copos
somente com a mão esquerda, o "bom espírito" manda que o discípulo
faça o mesmo. Se PCO não gosta de caqui, o "bom espírito" sugere a
execração dessa fruta como sendo "revolucionária"...
Existe
também o "mau espírito", que é a discordância em relação ao profeta.
Assim não se pode admitir a mínima crítica a PCO e à sua mãe.
"Eflúvio"
é outra palavra-chave do jargão da TFP, juntamente com
o vocábulo "imponderáveis"; estes dois termos constituem o que se
chama a "aerologia" ou a tônica geral de um ambiente. O Dr. Plínio
exime-se da obrigação de definir esses vocábulos, embora freqüentemente se
refira a eles. Ademais ele se julga capaz, com um simples olhar, de dizer se
uma pessoa ou um grupo de pessoas possui boa ou má "aerologia", isto
é, bons ou maus "eflúvios",
bons ou maus "imponderáveis". Todos na TFP se
maravilham por perceberam tanto "profetismo"
e tanta "santidade". Plínio se diz capaz de
conhecer a aerologia ou os episódios do dia-a-dia de cada país, mesmo sem ler
os jornais e sem ouvir os noticiários.
“Transesfera"
designa uma esfera superior, na qual as forças do bem e do mal estão em luta
permanente, luta que repercute nos acontecimentos da esfera terrestre.
"Bagarre"
é a luta final, da qual resultará o Reino de Maria após a vitória das forças do
bem.
"Sabugo"
é o militante frio e sem entusiasmo. A imagem é tirada
do sabugo do
milho, que já não presta para coisa alguma.
"Fumaça"
é todo aquele que se opõe a PCO em qualquer assunto. O termo faz eco à alusão
de Paulo VI à fumaça do demônio na Igreja.
"Fassur(a)"
designa a pessoa que leva uma vida considerada imoral pelos seguidores do
profeta.
"Bucha" é a Judeo-maçonaria,
inimiga mortal de TFP.
"Estrutura" designa o clero,
considerado como revolucionário e apóstata.
"Pôr
gelo, gelar" quer dizer "isolar um militante" mediante a
indiferença dos colegas.
S.A. = sabugos
e apóstatas.
Além
destes vocábulos, existem na TFP letras de canções que têm sentido duplo e
tendem discretamente a exaltar as pessoas de PCO e de sua mãe; a maior parte
desses textos foi redigida originariamente em
francês.
6. CONCLUSÃO
Não
é necessário descer a outros pormenores para dar uma idéia
do que seja a TFP. Ainda que alguns tópicos
do livro de G. Folena estejam ultrapassados ou se ressintam de exageros, pode-se
afirmar que tal obra e o resumo da mesma
aqui apresentados reproduzem fielmente o "espírito" ou a mente da
TFP. Giulio Folena adverte com certa razão: "Se os responsáveis por este
país não se derem conta das monstruosidades do Ermo São Bento, teremos logo a
repetição do episódio da Guiana. O Jim Jones está mais do que desenhado".
Esta
apreciação final é corroborada por uma Declaração da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil emitida em 18/04/1985 e
assim concebida:
"É
notória a falta de comunhão da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade) com a Igreja no Brasil, sua Hierarquia e com o Santo
Padre.
O
seu caráter esotérico,
o fanatismo religioso, o culto prestado à personalidade de seu chefe e
progenitora, a utilização abusiva do nome de Maria Santíssima, conforme
notícias veiculadas, não podem de forma alguma merecer a aprovação da Igreja.
Lamentamos
os inconvenientes decorrentes de uma sociedade civil que se manifesta como
entidade religiosa católica, sem ligação com os legítimos pastores.
Sendo
assim, os Bispos do Brasil exortam os católicos a não se inscreverem na TFP e
não colaborarem com ela.
Itaici, 18
de abril de 1985
BISPOS DO BRASIL
reunidos na 23a Assembléia
Nacional da CNBB".
APÊNDICE
Tem-se
espalhado amplamente uma bela imagem de
Nossa Senhora, de semblante tristonho; já terá chorado quatorze
vezes milagrosamente em suas aparições. Trata-se
da chamada "Imagem Peregrina de Nossa
Senhora de Fátima". Juntamente com a estampa, está sendo propagada a
Campanha "Vinde, Nossa Senhora de Fátima, não tardeis!", para a qual
se pede uma contribuição financeira. A promotora da Campanha é a TFP, cujo
endereço é indicado no próprio impresso de divulgação. Mais: à guisa de
valorização da Campanha, é apresentada uma carta do Cardeal Silvio Oddi ao Cônego
José Luiz Villac, carta que apoia e
abençoa a Campanha, "cujos objetivos são
altamente proveitosos para as almas católicas" (carta datada de 17/03/94).
Que dizer a propósito?
-
A estampa é muito bela e merece ser
guardada com estima. A afirmação de que Nossa Senhora já chorou quatorze
vezes em aparições aos homens, é do foro
das revelações particulares, às quais cada fiel católico está livre para dar
seu assentimento ou não, enquanto o magistério da Igreja não se pronuncia a
respeito. É, sem dúvida, muito louvável a atitude de penitência e desagravo que
a devoção a Nossa Senhora de Fátima vem suscitando, abstração
feita da credibilidade desta ou daquela
revelação.
Todavia
o fato de ser a TFP a promotora da Campanha suscita reservas frente à mesma,
visto que tal sociedade não comunga devidamente com o pensamento da Igreja,
como foi demonstrado nas páginas anteriores. É oportuno que os fiéis rezem pela
correção dos males
morais que afligem este mundo e que façam obras de reparação; só se pode
aplaudir este tipo de piedade - o
que todavia não implica que se apoie uma Campanha patrocinada por quem não está
plenamente em sintonia com a Santa Mãe Igreja. A devoção pode ser praticada
independentemente da referida Campanha.
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