Cine Excelsior – Salvador, BA

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o Cine Excelsior


Dia 17 de abril de 1935, noite no Centro de Salvador, as luzes se acendem, a multidão aguarda ansiosa pelo grande momento. As portas se abrem, o espetáculo começa. A cidade de Salvador, em pleno auge da década de 30, conquista um novo espaço cultural, o Cine Teatro Excelsior, inaugurado em grande estilo Avant-Premiére (primeira mão), com o filme A Guerra das Valsas. As sessões começavam às 14h e terminavam às 22h, com intervalos de duas em duas horas.

O antigo Cine São Jerônimo, demolido em 1933, deixou de ser poeira, sendo restaurado e intitulado de Excelsior. Em sua nova arquitetura, as cortinas vermelhas que recobriam a tela davam-lhe um visual bonito e sofisticado. Igualando-se aos outros três melhores cinemas da época: Guarani, Glória e Liceu.

Era um cine teatro luxuoso, em plena Praça da Sé, um dos lugares mais requisitados da época, o que incentivava as famílias a colocarem suas melhores roupas para assistir às matinês aos domingos. O Excelsior era amplo e, em algumas partes, havia uma bonita visão da Baía de Todos os Santos.

Foi fundado por um franciscano alemão chamado Frei Hildebrando Kruthaupse. Havia comentários preconceituosos a seu respeito por conta da sua nacionalidade, mas, ainda assim, o local era bem visto e distinto perante a sociedade.

Os tempos de auge do Excelsior foram as décadas de 30 a 50. Personalidades como o Cardeal Dom Lucas Moreira Neves, falecido há cinco anos, e Dom Geraldo Magela, atual Cardeal da Bahia, freqüentaram o Cine-Teatro, assim como o Monsenhor Gaspar Sadoc da Natividade, pároco da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, que também era um freqüentador assíduo.

De acordo com seu Geraldo Barbosa, um velhinho simpático de 83 anos, membro da Congregação Mariana de São Luiz, órgão franciscano proprietário do Cine-Teatro e que acompanhou os anos de glória e decadência do lugar, a intenção do Frei Hildebrando em criar este cinema foi ter uma fonte de renda para ajudar as doações e as campanhas franciscanas, que fosse um ambiente familiar, onde os homens pudessem levar suas esposas e filhos.

O Cine não foi construído para exibições em palco, mas, quando foi inaugurada a Radio Excelsior, em Itapagipe, que pertencia a Dom Avelar, um dos sócios da Congregação na época, apresentou o grupo “Trio de Ouro”, com Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas. Outro espetáculo também muito cobiçado foi o “Todo Tango”, com a música Los Creadores, do músico, pianista e compositor Manuel Buzón, interpretando canções no mesmo espetáculo em que Elvino Vardaro executava, no violino, a música As fantasias Ballet.

Entre as décadas de 60 e 80, o Excelsior entra em declínio. A falta de verbas para a manutenção do cinema contribuiu para o afastamento dos cinéfilos. “Tinha meus 20 e poucos anos quando freqüentava o Cine entre os anos 70 e 80, gostava de ir ao Excelsior por causa de seu clima antigo, que dava um charme ao local, mas a falta de cuidado e o descaso com sua estrutura acabaram desfazendo todo o glamour que envolvia o cinema”, relembra a aposentada, Joseide Santana, 55 anos.

Triste fim

O advento das televisões, vídeos-cassete e o surgimento dos cinemas nos shoopings acabaram tornando o público mais exigente, fazendo a magia dos cinemas de bairro chegar ao fim. Não seria diferente com o Excelsior.

Outro motivo importante para a decadência foi o fato do Diretor, Livio Bruni, na década de 80, ter explorado comercialmente o Cine, exibindo filmes pornográficos, contrários à política da Congregação Mariana. O que resultou em uma “ação de rescisão contratual”, da Congregação no Fórum Rui Barbosa, contra as distribuidoras de Filme Cinema Capri, e a empresa Orient Filmes, que saiu vitoriosa. Em 1985, uma matéria feita sobre o Excelsior no Jornal “A Tarde” expressou a indignação do distribuidor de filmes da Orient, na época, Aquiles Dantes Mônaco, que disse que entraria com uma ação contra Livio Bruni, e o Cine-Teatro, para ter uma compensação financeira na Justiça.
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Cine Excelsior: hoje, só a fachada é o que resta. Um dos mais tradicionais cinemas de Salvador foi interditado e esquecido pela sociedade baiana.

Hoje, só o que resta do Excelsior é a sua antiga fachada. Na parte interior, só a “carcaça”. Parte do Cine ainda continua com um pouco da sua estrutura intacta e é onde os membros da Congregação se reúnem. E graças a eles, a lembrança do Cinema não se apaga, independente do seu não funcionamento. O Excelsior, é um pedaço da história do cinema brasileiro, da Praça da Sé e de todo o Centro Histórico da Bahia.


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