Pular para o conteúdo principal

Confirmador do imutável

Carlos Ramalhete
Publicado em 28/02/2013 | carlosgazeta@hsjonline.com 


Hoje a Sé de Roma fica vacante, com hora marcada. O mais difícil, no mundo de hoje, é entender o que é a Sé de Roma, o que é um papa, para que ele serve, qual o seu papel.

O historiador francês Alain Besançon, três anos atrás, escreveu no L’Osservatore Romano (o jornal oficioso do Vaticano) que Bento XVI “encontra-se numa posição semelhante à de Paulo VI após o Concílio Vaticano II, enfrentando o que aquele chamou de ‘autodestruição’ da Igreja. Desta vez, contudo, a autodestruição é de toda a sociedade, da natureza e da razão”. Uma sociedade em autodestruição não consegue entender para que serve alguém cuja função é testemunhar o Eterno.

Ao papa – um homem como qualquer um de nós – cabe a difícil missão de dizer sempre o mesmo, de repetir, elucidar e esclarecer a Revelação concluída com a morte do último dos apóstolos, no fim do século 1. Em outras palavras, compete a ele “confirmar os irmãos na fé”, na frase do próprio Cristo. Confirmar, não inventar, mudar ou seguir uma moda.

É um papel compreensível para muçulmanos, judeus, hinduístas, taoístas ou confucianos. Não o é, contudo, para os ativistas deste processo de autodestruição, que negam a própria natureza e a própria razão. Pode-se ter ideia da dificuldade ao ver as confusões de hoje entre gente e bicho, entre macho e fêmea, entre adulto e criança, entre desejo e identidade. Quem acha que querer é ser, ou que ter é ser, na verdade não sabe quem é.

Compete ao papa confirmar que pão é pão e queijo é queijo. Que o caminho é o mesmo, ontem, hoje e sempre. Que a natureza humana não muda, mas cada um pode e deve se aperfeiçoar. O papa não proíbe nada sob pena de multa ou prisão; apenas confirma, como um aviso vivo, que isto ou aquilo faz bem ou faz mal. Sempre fez, sempre há de fazer.

1,7 mil anos atrás reclamavam porque o papa afirmava ser boa a castidade. Continua afirmando.
1,2 mil anos atrás reclamavam porque o papa afirmava a indissolubilidade do matrimônio. Continua afirmando. 800 anos atrás reclamavam porque o papa afirmava que os esposos devem ter relações sexuais e assim gerar filhos. Continua afirmando. 500 anos atrás reclamavam porque o papa afirmava que a escravidão é má. Continua afirmando. 200 anos atrás reclamavam porque o papa afirmava que a fé e a razão se completam. Continua afirmando. Dizer que o próximo papa irá “rever posições da Igreja” é não saber o que é um papa. O que é a Igreja. O que é o Eterno. O que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Só o que sabemos do próximo papa é que confirmará o que é eterno.



fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1349175

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Pouca Quantidade de [Católicos] que São Salvos

  por São Leonardo de Porto Maurício, OFM*   Este sermão é logicamente dividido em duas partes. A primeira demonstra que a maioria dos católicos é condenada, e é baseada na revelação, tradição, opinião de teólogos eruditos, bem como "razão, experiência e senso comum dos fiéis". A segunda é mais especulativa, na qual São Leonardo avança a proposição, que não ouvi raramente (e que eu mesmo afirmei), de que as pessoas só são condenadas se quiserem. Considero que isso seja possivelmente errôneo. A segunda também contém uma proposição evidentemente falsa, pelo menos em uma leitura óbvia. Portanto, embora contenha muito que é admirável, omiti essa parte da discussão. De qualquer forma, deve-se notar ao ler o texto que o Santo está preocupado apenas em discutir católicos aqui, pois é da fé que todos os que morrem como não católicos são condenados; portanto, quando ele usa a palavra "cristão", deve-se estar ciente de que ele está se referindo apenas ...

Porque chamamos as pessoas de "senhor" ou "senhora"?

Rodrigo Lavôr No Rio, quando você chama alguém de "senhor" ou "senhora" é comum que as pessoas te respondam: "deixa de ser formal. O Senhor ou a Senhora estão no Céu!". Trate-me de "você"! Bem, não deixa de ser bonito, dado que "você" é abreviação de "vossa mercê". Porém, por desconhecimento da raiz latina da palavra "senhor", perdemos muitas vezes a oportunidade de receber um grande elogio. "Senhor" vem de "dominus, i", o que significa: senhor, dono. Antigamente, se dizia "senhor" e "senhora" a toda pessoa a qual se desejava dizer: "você é dono (a) de si mesmo (a)", ou seja, você é uma pessoa madura, que tem "self mastery" ou uma pessoa muito virtuosa porque tem areté (= virtude, no grego). Sendo assim, não percamos a oportunidade de deixar que nos chamem "senhores de nós mesmos" quando acharmos que as coisas, de fato, são assim. Não tem nada a...

Arcebispo funda a Ordem das Virgens em Fortaleza e já há três candidatas

  As candidatas à ordem das virgens Samara Marcolino, Vitória Vasconcelos e Roberta Moreira com a madre Bernadete, dom Gregório Paixão e padre Evaristo Marcos | Arquidiocese de Fortaleza     Por Natalia Zimbrão 24 de mai de 2024 às 13:29    O arcebispo de Fortaleza (CE), dom Gregório Paixão, publicou o decreto de fundação da Ordo Virginum (Ordem das Virgens) em sua arquidiocese, que já tem três candidatas. O decreto foi assinado na segunda-feira (20), dia da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja. “Achei bastante inspirada essa data, porque a ordem das virgens é realmente uma resposta à...