Pular para o conteúdo principal

Enxugar a Missa


Dom José Maria Maimone - Bispo emérito de Umuarama (PR)



Alguns Padres deveriam filmar suas Missas, depois, calmamente e atenciosamente assistir.

O que eles veriam?

Veriam os fiéis conversando enquanto o comentarista lê a interminável lista de intenções. Veriam que ninguém acompanha a introdução do folheto indevidamente inflacionada pelos acréscimos cometidos pela equipe de liturgia, que acrescentam, por sua conta, inúmeras outras intenções.

Veriam uma procissão de entrada ao som de música barulhenta, cobrindo a voz dos cantores. Aliás, com um tom que só o coro canta, enquanto a assembléia permanece muda, pois não conhece os cantos.

Veriam que o ato penitencial fala de pecados estruturais e macro-injustiças, ataca as multinacionais e as políticas globalizantes, mas não fala das
bebedeiras do marido nem da preguiça da esposa, não se refere à desobediência dos adolescentes nem à safadeza dos moçoilas.

Quando a assembléia canta piedade, piedade, piedade de nós, canta da boca pra fora, pois sabe muito bem que seus pecados são outros...

Primeira leitura: Moisés caminha pelas areias do deserto, sob o sol causticante, enquanto os jumentos do Egito babam de calor.

Ali, bem diante do altar, um velhinho cochila e baba também. Dois bebês (a quem as mamães deram os folhetos de missa para mascar) babam igualmente. Futuramente as alfaias incluirão babadouros para a assembléia.

Segunda leitura: Um leitor esforçado luta com os óculos para encontrar o foco adequado. O templo mal iluminado em nada ajuda em seu combate. O texto sai truncado, as frases sincopadas, as sílabas finais inaudíveis. A assembléia é salva pelo gongo. De pé, aplaudem o Livro Santo, enquanto o
coral entoa um canto de Aclamação que não tem nenhuma aclamação. Por pouco não cantam: Ora, bolas!

O seu vigário lê o Evangelho. Tem boa voz, mas o volume do microfone está alto demais e alguns zumbidos de microfonia competem com a mensagem central.

Já sentados, os fiéis ouvem a homilia. Pela nave da igreja o que se vê: Dona Engrácia reza o terço, piedosa e contrita. Juca e Chico puxam as tranças de Dorotéia uma gracinha! Rafael, com menos de dois anos de idade, corre pelo corredor central, atraindo os olhares maternais das senhoras do Apostolado da Oração.

O pregador continua falando. Escapou do tema do Evangelho do dia e fez breves referências à Campanha da Fraternidade, à visita de Sua Excelência o Bispo diocesano, ao próximo Grito dos Excluídos, à campanha para construção da torre, além de pedir enfaticamente que se lembrem do dízimo no próximo domingo.

Percebe-se também que Dr. Edmundo não tira os olhos do relógio, pois já desconfia de que não terá tempo de ver a largada da corrida de Fórmula Um.

Então, Senhores Vigários, não precisam se preocupar em continuar avaliando, pois já deu para os Senhores terem plena convicção de que sua “liturgia” foi um desastre. Agora preparem-se para deitar. Talvez os Senhores consigam dormir...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Porque chamamos as pessoas de "senhor" ou "senhora"?

Rodrigo Lavôr No Rio, quando você chama alguém de "senhor" ou "senhora" é comum que as pessoas te respondam: "deixa de ser formal. O Senhor ou a Senhora estão no Céu!". Trate-me de "você"! Bem, não deixa de ser bonito, dado que "você" é abreviação de "vossa mercê". Porém, por desconhecimento da raiz latina da palavra "senhor", perdemos muitas vezes a oportunidade de receber um grande elogio. "Senhor" vem de "dominus, i", o que significa: senhor, dono. Antigamente, se dizia "senhor" e "senhora" a toda pessoa a qual se desejava dizer: "você é dono (a) de si mesmo (a)", ou seja, você é uma pessoa madura, que tem "self mastery" ou uma pessoa muito virtuosa porque tem areté (= virtude, no grego). Sendo assim, não percamos a oportunidade de deixar que nos chamem "senhores de nós mesmos" quando acharmos que as coisas, de fato, são assim. Não tem nada a

25 de março - fundação da primeira Congregação Mariana no mundo.

25 de março - solenidade da Anunciação do Senhor (Nossa Senhora da Anunciação) fundação da primeira Congregação Mariana no mundo Roma, 1563. "Roma e o Colégio Romano estavam fadados para o berço da primeira Congregação própriamente Mariana, cuja fundação Deus reservara a um jesuíta belga: o pe. Leunis. Em 1563 reunia este Padre, no princípio semanalmente, depois cada dia, aos pés de Nossa Senhora, os seus discípulos e muitos que não o eram, orando todos à Ssma. Virgem, e ouvindo a seguir uma breve leitura espiritual. Nos Domingos e Festas cantavam-se ainda as Vésperas solenes. Um ano depois, em 1564 eram já setenta os congregados e davam-se as primeiras Regras, cujo teor em resumo era: Fim primário: progresso na sólida piedade e no cumprimento dos próprios deveres, sob a proteção e com a ajuda da Virgem Ssma. Meios: confissão semanal, ouvir Missa cada dia, rezar o Rosário, e fazer outras orações do Manual. Nos dias de aula, depois desta, um quarto de hora de meditação, e ou

Um olhar por trás da controvérsia da Eucaristia da JMJ Lisboa

  por Filipe d'Avillez 11 de agosto de 2023 . 14h08     Enquanto a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa termina, o debate persiste sobre algumas decisões litúrgicas tomadas durante o festival de uma semana realizado para peregrinos católicos de todo o mundo.  O Papa Francisco disse que Lisboa foi a Jornada Mundial da Juventude mais bem organizada que ele já viu como papa, mas alguns católicos estão criticando, com polêmica nas redes sociais sobre o tratamento da Eucaristia em Lisboa.  A Eucaristia reservada em uma tenda na Jornada Mundial da Juventude, na forma prescrita pela Fundação Jornada Mundial da Juventude. Crédito: MN. Havia dois pontos principais de discórdia. Uma delas tem a ver com a cibória usada numa missa ligada à Jornada Mundi