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Homenagem do Papa à Imaculada Conceição

Homenagem do Papa à Imaculada Conceição

Na Praça de Espanha, em Roma

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 9 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos as palavras que Bento XVI pronunciou na homenagem que ofereceu na tarde dessa terça-feira, solenidade da Imaculada Conceição, perante a imagem da Virgem Maria que se encontra na Praça de Espanha, no centro de Roma.

* * *

Queridos irmãos e irmãs:

No coração das cidades cristãs, Maria constitui uma presença doce e tranquilizadora. Com seu estilo discreto, dá a todos a paz e a esperança em momentos alegres e tristes da existência. Nas igrejas, nas capelas, nas paredes dos edifícios: um quadro, um mosaico, uma estátua recorda a presença da Mãe que vela constantemente por seus filhos. Também aqui, na Praça de Espanha, Maria está colocada no alto, como que velando por Roma.

Que diz Maria à cidade? Que recorda a todos com sua presença? Recorda que “onde se multiplicou o pecado, transbordou a graça” (Romanos 5, 20), como escreve o apóstolo Paulo. Ela é a Mãe Imaculada que repete também aos homens de nosso tempo: não tenhais medo, Jesus venceu o mal; venceu seu domínio desde a raiz. Quanta necessidade temos desta bela notícia! Todo dia, de fato, através dos jornais, da televisão, do rádio, o mal é narrado, repetido, amplificado, acostumando-nos às coisas mais horríveis, fazendo-nos insensíveis, em certo sentido, intoxicando-nos, pois o negativo não se digere plenamente e dia após dia se acumula. O coração endurece e os pensamentos se tornam sombrios. Por esse motivo, a cidade tem necessidade de Maria, que com sua presença nos fala de Deus, recorda-nos a vitória da Graça sobre o pecado, e nos leva a ter esperança, inclusive nas situações humanamente mais difíceis.

Na cidade vivem –ou sobrevivem– pessoas invisíveis, que de vez em quando saltam às primeiras páginas ou às telas da televisão, e são aproveitadas até o fim, enquanto a notícia e sua imagem chamam a atenção. É um mecanismo perverso, perante o qual infelizmente é difícil opor resistência. A cidade primeiro escondo e logo expõe ao público. Sem piedade ou com falsa piedade. No entanto, em todo homem se dá o desejo de ser acolhido como pessoa e considerado como uma realidade sagrada, pois cada história humana é uma história sagrada e exige o maior respeito.

A cidade, queridos irmãos e irmãs, somos todos nós! Cada um contribui para a sua vida e seu clima moral, para o bem ou para o mal. No coração de cada um de nós passa a fronteira entre o bem e o mal, e nenhum de nós deve sentir-se com o direito de julgar os demais, mas cada um deve sentir o dever de melhorar a si mesmo. Os meios de comunicação tendem a fazer que sempre nos sintamos “espectadores”, como se o mal só afetasse os demais, certos eventos que a nós não poderia nunca acontecer. No entanto, todos somos “atores” e, tanto no mal como no bem, nosso comportamento tem uma influência sobre os demais.

Com frequência, nos queixamos da contaminação do ar, que em certos lugares da cidade é irrespirável. É verdade: requer-se o compromisso de todos para tornar a cidade mais limpa. E, no entanto, há outra contaminação, menos perceptível pelos sentidos, mas igualmente perigosa. É a contaminação do espírito, que faz que nossos rostos sorriam menos, sejam mais tristes, que nos leva a não nos saudar, a não nos olhar nos olhos... A cidade está cheia de rostos, mas infelizmente as dinâmicas coletivas podem nos fazer perder a percepção de sua profundidade. Tudo o vemos superficialmente. As pessoas convertem-se em corpos e estes corpos perdem a alma, convertem-se em coisas, objetos sem rostos, intercambiáveis, objetos de consumo. 

Maria Imaculada nos ajuda a redescobrir e defender a profundidade das pessoas, pois nela se dá uma perfeita transparência da alma no corpo. É a pureza em pessoa, no sentido de que espírito, alma e corpo são nela plenamente coerentes entre si e com a vontade de Deus. A Virgem nos ensina a nos abrir à ação de Deus para ver os demais como Ele os vê: a partir do coração. E ao vê-los com misericórdia, com amor, com ternura infinita, especialmente os mais sós, depreciados, os que sofrem abusos. “Onde se multiplicou o pecado, transbordou a graça”.

Quero render homenagem publicamente a todos aqueles que, em silêncio, sem palavras, mas com fatos, esforçam-se para praticar esta lei evangélica do amor, que leva adiante o mundo. São tantos, inclusive aqui, em Roma, e poucas vezes tornam-se notícia. Homens e mulheres de todas as idades, que compreenderam que de nada serve condenar, queixa-se, jogar a culpa, mas que é melhor responder ao mal com o bem. Isso é o que muda a realidade; ou melhor dito, muda as pessoas, por conseguinte, melhora a sociedade. 

Queridos amigos romanos e todos os que vivem nesta cidade! Enquanto estamos ocupados com as atividades cotidianas, escutemos a voz de Maria. Escutemos seu apelo silencioso, mas urgente. Ela nos diz a cada um: que onde se multiplicou o pecado possa transbordar a graça, a partir precisamente de teu coração e de tua vida! E a cidade será mais bela, mais cristã, mais humana. 

Obrigado, Mãe Santa, por esta mensagem de esperança. Obrigado por tua silenciosa mas eloquente presença no coração de nossa cidade. Virgem Imaculada, Salus Populi Romani, orai por nós!

[Traduzido por Zenit

© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]

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