(Discurso
de D. Sebastião Leme, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, pronunciado
no Dia Mundial do Congregado, 12 de Maio de 1940).
Antes de vos dirigir a palavra de Pai e Pastor, quero falar-vos como congregado mariano que tenho a honra e a felicidade de ser.
Sabeis que na história edificante do culto marial, avulta e sobressai, nimbado de glória, o nome de São Bernardo.
Entre múltiplas e variadas práticas de devoção, tinha êle o hábito de repetir, inúmeras vezes, as primeiras palavras da saudação angélica: — “Ave Maria!"
Pois bem; conta-se de São Bernardo que, passando sob as arcadas silenciosas do claustro, ao defrontar-se, certo dia, com lima estátua muito branca de N. Senhora, esta para êle se inclinou e disse: “Ave Bernardo!”
Imitando o suave doutor de Claraval, também os nossos Congregados procuram ter sempre no coração e nos lábios a angélica invocação: “Ave Maria!”
Quantas vezes já não fizestes ressoar espontânea e quente, no decurso desta empolgante assembléia!
Exagero não será, portanto, imaginar que, Mãe bondosa como nenhuma outra, N. Senhora aqui esteja sorrindo: “Ave Marianos!”
De tão comovedor simbolismo, gravado nos ficará na consciência a realidade de que às Congregações Marianas títulos privilegiados assistem à proteção de nossa Mãe Santíssima!
Se para Ela, animados de filial confiança, podemos apelar cm todas as horas e contingências da vida, façamo-lo hoje, com maior confiança ainda, por ser o dia mundial das Congregações Marianas.
Sobre os nossos irmãos, os Congregados do Rio, do Brasil, da América e de toda a cristandade, chovam copiosas as bênçãos mais eleitas do Céu. Bênçãos especiais invoquemos para os mentores e guias espirituais do movimento mariano.
Comentando o fato auspicioso de se manter o Brasil na vanguarda do "marianismo” universal, notou "Estréia do Mar” que aqui, em nosso país, "clima” propício encontraram as Congregações.
Observemos, porém, que, só por si, não bastaria o "clima”. Â frente do movimento mariano era preciso alguém que fosse "alguém”. Temo-lo no Padre César Dainese, que tem sabido Frestigiar a tradição de seus antecessores. Ao seu lado, como diretores dos núcleos locais, aí estão zelosos sacerdotes do clero secular e regular.
Não quiseram ser êles como os marcos de indicação quilométrica, que, à margem das estradas, são testemunhas imóveis e frias da carreira vertiginosa dos veículos em trânsito.
Diante de esplêndida cruzada mariana que sacode o Brasil, disputa o clero a honra de ser o “motor” que não sabe parar, “motor” que tudo impele para a frente e para o alto.
Ao encerrar estas palavras de mariano a marianos, convido os meus irmãos a renovarmos juntos os propósitos de fidelidade, energia e constância no cumprimento do nosso dever de congregados.
A fita azul que ostentamos com santo orgulho, seria inexpressível “crachat” religioso, se em nosso peito não batesse um coração de filho de Maria.
Ora, filho de Maria quer dizer: gravidade de costume, hábitos disciplinados, fé viva, piedade sincera, fervor eucarístico, vida interior, enfim.
Concluamos, pois, que a fita azul é e deve ser índice de bravura moral. Bravura moral, e se preciso for, bravura física também.
* * *
Agora, a palavra do Pastor e Chefe.
Minha presença nesta solenidade significa, ainda uma vez, 6 paternal interesse e o afetuoso entusiasmo com que acompanho o surto magnífico das Congregações Marianas em nossa terra.
Supérfluo me pareceria reafirmar que sempre tive na mais alta conta a eficácia das Congregações Marianas na formação e preservação da mocidade. Assim é que, preocupado com a salvação do meu povo, já em 1928, prescrevia eu a fundação de Congregações Marianas em todas as paróquias da Arquidiocese. As sementes, então e depois lançadas, germinaram, cresceram e tanto se multiplicaram, que, nesta hora triunfal, era todos os recantos do Rio de Janeiro, brota e floreja copada e opulenta a árvore bendita das Congregações Marianas.
Nelas o meu coração em festas saúda um dos viveiros mais fórteis do jardim das almas. Viveiros e escolas providenciais de católicos, tão fiéis e piedosos no serviço de N. S. Jesús Cristo, como inflamados e destemidos na defesa da igreja: — eis as Congregações Marianas.
Destarte falando, nada mais faço que sintetizar o pensamento e o sentir de grandes santos e grandes Pontífices.
Conheceis a frase lapidar de Pio Xl: “As Congregações Marianas são a via-láctea do céu da Igreja”.
Do Santo Padre, gloriosamente reinante, posso dar-vos testemunha pessoal de que é fervoroso animador da nossa instituição.
É quanto basta para verificarmos o erro de quem pensasse que o reajustamento do apostolado leigo na Ação Católica, inspiradamente organizada pelo imortal Pio XI, anulou ou diminuiu a importância e oportunidade das Congregações Marianas.
Não! Nada tem a Ação Católica a recear do desenvolvimento das Congregações Marianas e de nenhuma outra corporação religiosa.
Estabelecida pela vontade suprema do Vigário de Jesus Cristo na terra; tendo recebido o mandato oficial de colaboração nas atividades apostólicas da Igreja e de sua Hierarquia, a Ação Católica, ensinou Pio XI, "faz parte da vida cristã" e “é indispensável como o é o ministério sacerdotal”.
Daí o não ser ela uma associação como outra qualquer, por mais abençoada e recomendada que seja.
Obras auxiliares que são da Ação Católica, ainda agora muito bem o frisou o Padre Dainese, as associações religiosas e, sobretudo, as Congregações Marianas, quanto mais aperfeiçoadas, mais cooperarão com a Ação Católica na dilatação do reino de Cristo.
Acresce que, por orientação da Santa Sé e pelos estatutos da Ação Católica Brasileira, as associações religiosas, e, pois, as Congregações Marianas devem encaminhar seus. membros a se inscreverem individualmente nos quadros fundamentais da Ação Católica.
De tudo se conclui que, apesar de ser a Ação Católica “a pupila de seus olhos”, o Santo Padre e o Episcopado querem, abençoam e urgem a vitalidade das Congregações Marianas, hoje como dantes, recomendadas, oportuníssimas e, — no ambiente brasileiro, pelo menos, poderíamos dizer — necessárias.
Delas queremos, não só a sua atuação cada vez mais ardente e disciplinada como forças auxiliares da Ação Católica, mas ainda o fornecimento de militantes com formação e “treino”, que venham a ser soldados valorosos nas fileiras do exército oficial de Cristo Rei: — a Ação Católica.
Deus o quer e o Papa o ordena: tem a Ação Católica de viver, difundir-se, firmar-se, desenvolver-se e triunfar; mas, parodiando o que a respeito das nações afirma o Santo Padre, podemos ficar certos de que o direito e a vontade de viver da Ação Católica não equivalem a sentença de morte para outras associações e, muito menos, para as Congregações Marianas.
Juridicamente ligada à Hierarquia, as fronteiras da Ação Católica são as fronteiras do mundo. Nunca apelaremos para teoria do "espaço vital”.
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Marianos, meus irmãos!
Por mim, por S. Excia. Revma. o Sr. Núncio Apostólico aqui presente, pelo episcopado e pelo clero brasileiro, como bênção de salvação para nossa Pátria, imploro de Deus Nosso Senhor a graça de que por toda parte vivam e prosperem as Congregações Marianas. Tal a minha prece.
Agora, o meu voto.
Em todo o território nacional, contamos hoje perto de noventa mil Congregados Marianos.
Recrutaremos amanhã toda a mocidade brasileira.
Será o domínio da “flâmula azul”?
Não! Será, apenas, o império intangível de Cristo através das bênçãos dulcíssimas de Nossa Mãe do Céu.
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