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Vanguarda sempre – As CCMM especializadas


Juliana Fragetti Ribeiro Lima 
(aspirante da CM)

Vivemos numa sociedade onde a especialização é a chave de tudo. Hoje não basta o sujeito ser neurologista ou ginecologista. Ele busca, mesmo dentro dessas áreas, que já são especialidades da medicina, uma especialização a mais. No direito idem. Só cível e criminal ou tributário é algo inexistente. O cara é isso e mais um teco. E poderíamos aqui listar todas as profissões hoje. Todas quase tem isso. É bem verdade que essa sede de especializações veio recentemente. O generalista deixou de ser algo tão bem acolhido na sociedade. As pessoas queriam o especialista. E isso só vem num crescente desde então.

Congregação Mariana Feminina
Congregação Mariana Feminina na Polônia (início do século XX)


Ao contrário do que acusam, a Igreja sempre foi vanguarda. Até nisso! Séculos atrás, quando ninguém sonhava com esse afã de especialista nisso e especialista naquilo, já existiam as Congregações Marianas especializadas. Para o leitor ter idéia, em Paris, no século XVIII existia uma CM de mendigos e outra para os nobres no palácio. Haviam também CCMM de mulheres, militares, seminaristas. Aliás, no Brasil, 90% dos seminários tinham CM para os seminaristas antes do concilio. Inclusive haviam no Brasil federações dessas CCMM especializadas: estudantes, militares, mulheres etc.

Daí o leitor me pergunta: oras, pra que essa segregação? Não, não é segregação. As CCMM nasceram assim, especializadas. Colégios, orfanatos, no palácio, no seminário. Cada publico tinha uma necessidade pastoral e cotidiana diferente. Que numa reunião comum é frequentemente sacrificada e a reunião é nivelada por baixo. Ou ainda se foca num dos grupos só em detrimento do outro. Isso não ajuda, antes atrapalha. O fato de todos sermos congregados e servos da Virgem Ssma. não quer dizer que tenhamos que ser todos iguais. Não somos. Temos profissões, interesses diferentes. Isso faz a beleza da vida. E a CM foi pioneira, quando ninguém sonhava em pensar nisso. Havia até uma CM de samurais. Adiantaria eles junto de estudantes ou de profissionais liberais? Eles precisavam de outra direção e formação. Assim como não adiantaria mendigos e advogados juntos. Você daria formação pra um grupo em detrimento de outro. A melhor formação é a que vai de encontro às necessidades dos formandos. Para isso as CCMM sempre foram especializadas. Elas sempre nasceram assim. Homens, mulheres, militares, seminaristas, acadêmicos, mendigos, etc. E acho q isso era a força também da CM dentro da sociedade católica, porque todos tinham seu lugar. Ao mesmo tempo distintos mas também unidos.

Porque confinar as CCMM a um grupo só, como se elas fossem um grupo só de rapazes, como é costume em alguns lugares? Ou ainda, em nome da diversidade que sempre se teve na igreja, se erguem a torto e a direito CCMM mistas e sem públicos distintos. Isso também não ajuda na revitalização das CCMM. A força das CCMM era justamente isso: um enorme exército dedicado à Virgem, cada qual servindo-a no seu ambiente e com as suas capacidades.

Voltando ao tema do texto, nós podemos e devemos usar isso a nosso favor. Essa sede por especializações não estaria pululando nas universidades (pós, mestrado, doutorado, MBA) se a sociedade não pedisse isso. As pessoas não querem mais algo generalista, querem algo que de fato as atenda nas suas necessidades específicas. Sabemos também, que a formação ganha em qualidade com públicos distintos por interesse. Quando se dá uma formação voltada às necessidades de um grupo a resposta é outra. O dia que nós sairmos do nosso marasmo e voltarmos ao carisma original das CCMM muita coisa mudará, já que em termos de pastoral a CM era revolucionária. Ninguém sonhava com o que veríamos em nossos dias de cada grupo ser atendido em suas necessidades, mas a CM já fazia isso.

Reconheço que a principio isso daria algum trabalho. E também sairíamos do campo das CCMM puramente paroquiais. Aliás, se olharmos o passado das CCMM, colégios, academias militares, seminários, tds esses lugares tinham CM e não somente as CCMM paroquiais que também existiam, claro. Isso pode exigir um pouco mais de organização, evidente: um padre, que pode ser o pároco ou outro pra assistente, um lugar e dia diferentes – em geral CM em paroquia a reunião é aos domingos. Numa supra paroquial, para não tirar os congregados todos das suas respectivas paroquias e ir pra um lugar onde nem sempre é perto da casa deles, convém outros dias e horários. Por ex, na UERJ, o horário da CM lá é meio dia, pois é o intervalo que pode congregar a todos.

Embora dê algum trabalho, eu creio – e quero convocar você que me lê e que também é congregado, candidato ou aspirante de uma CM – que a renovação das CCMM passa obrigatoriamente pelas CCMM especializadas, verdadeira tradição mariana. Vamos resgatar isso?




fonte:http://cantodaju.com/2014/02/04/vanguarda-sempre-as-ccmm-especializadas/

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