A Inquisição em seu Mundo
José Eduardo Bruno *
a Inquisição se desenvolveu em três fases sucessivas:
1) A Inquisição Medieval, do século XII ao século XV, voltada contra
os cátaros (que saqueavam fazendas e aldeias por motivos
filosófico-religiosos) e, depois, contra outros tipos de erros
religiosos.
2) A Inquisição Romana, dirigida contra as idéias paganizantes e reformadoras dos séculos XV/XVII.
3) A Inquisição Espanhola, do século XV ao século XIX, visava aos
judeus e muçulmanos da península ibérica, sob a direção prepotente dos
monarcas espanhóis, que, servindo-se de um instrumento religioso,
queriam unificar a população de Espanha e Portugal.
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“Inquisição nunca foi um tribunal meramente eclesiástico; sempre teve a
participação (e participação de vulto crescente) do poder régio, pois
os assuntos religiosos eram, na Antiguidade e na Idade Média, assuntos
de interesse do Estado; a repressão das heresias (especialmente dos
cátaros, que pilhavam e saqueavam as fazendas) era praticada também pelo
braço secular, que muitas vezes abusou da sua autoridade. Quanto mais o
tempo passava, mais o poder régio se ingeria no tribunal da Inquisição,
servindo-se da religião para fins políticos. Dois casos significativos
a tal propósito foram: 1) em 1312 a condenação dos Templários, contra
os quais o rei Filipe IV o Belo da França (1285-1314) moveu a
Inquisição, desejoso de possuir os bens da Ordem dos Templários, quando
condenada e abolida; 2) em 1431 a condenação de Joana d'Arc, a jovem
guerreira que incomodava a Coroa da Inglaterra pelo seu zelo cristão e
patriótico.
Aliás, quanto mais a história avançava, tanto mais
absolutistas se tornavam os reis do Ocidente europeu, de tal modo que
não podiam tolerar outra instância judiciária autônoma (a eclesiástica)
ao lado da instância judiciária civil; esta deveria mais e mais valer-se
dos tribunais eclesiásticos para implantar os interesses dos monarcas. A
prepotência começou com Filipe IV o Belo da França e atingiu o seu auge
na Espanha e em Portugal a partir do século XVI; o desejo de unificar a
população da península ibérica, composta de cristãos, judeus e
muçulmanos, levou os reis daqueles dois países a pedir e obter do Papa a
instalação da Inquisição em seus territórios; os soberanos acionavam a
Inquisição segundo os seus propósitos, mediante homens por eles
nomeados, provocando sérios conflitos com a Santa Sé, que mais de uma
vez se recusou a reconhecer o procedimento da Inquisição na península
ibérica; aliás, no final da vigência desta Instituição, já não se dizia
Inquisição Eclesiástica, mas, sim Inquisição Régia."
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`A JUSTIÇA CRIMINAL COMUM´
"As censuras apresentadas contra a Inquisição giram, invariável e
incansavelmente, em torno das idéias de intolerância, prepotência,
crueldade; mas, ao assim descrevê-la, os críticos abstraem, ou referem
muito de leve, o ambiente em que ela viveu. Forçam por tratá-la quase
como um acontecimento isolado e, medida pelos padrões da atualidade, se
torna incompreensível e repulsiva para o espectador de hoje.
Sucede porém que esse fenômeno foi produto da sua época, inserido num
clima religioso e em certas condições de vida, submetido à força dos
costumes e de toda uma formação cultural e mental, fatores que
forçosamente tiveram de moldar o seu comportamento. Por isso entendemos
indispensável suprir grave lacuna: antes de examinar a Inquisição, é
preciso conhecer de perto o mundo que a envolveu, tão diferente do
nosso. Sobretudo, não nos duvidemos de que o Santo Ofício equivaleu a
uma, Justiça Criminal, de sorte que não é possível entendermos o seu
procedimento sem preliminarmente saber como atuava a Justiça Criminal
comum, ou laica, que lhe foi contemporânea e que lhe serviu de modelo.
Esta era uma Justiça assinalada por profundo atraso, com métodos toscos e
violentos, mas por todos encarada com naturalidade, aprovada e
defendida pelos mais sábios juristas de então"
`REGIME DE CRISTANDADE´
É importante notar a diferença entre o mundo de hoje e a medieval na
tocante à cosmovisão ou à filosofia de vida: ao passo que em nossos dias
se admite a pluralismo, segunda a qual vivem lado a lado pacificamente
cristãos, judeus, muçulmanos, ocultistas, ateus. . . , na Idade Média
tal pluralismo era inconcebível; quem não fosse cristão fiel, era
suspeito de estar possesso do demônio e infenso à sociedade daí a
motivação própria que levava os medievais a inquirir as dissidentes da
fé cristã: - São esta as palavras da Prof. João Bernardino:
"Na Europa ocidental após a queda do Império Romano, a única
instituição poderosa e universal era a Igreja. Ser membro dessa
associação era teoricamente voluntário e praticamente obrigatório. Ser
desligado de sua comunhão era castigo tamanho que, até o século XVI, os
próprios reis temiam diante da ameaça de excomunhão. Da menor das
aldeias, com sua igreja paroquial, à maior das cidades, com sua
catedral, suas numerosas igrejas, seus mosteiros e santuários, a Igreja
estava visivelmente presente em todas as comunidades: suas torres eram o
primeiro objeto que a viajante divisava no horizonte e sua cruz era a
último símbolo levantado diante dos olhos do agonizante.
"Numa
cultura assinalada por espantosas diversidades de dialeto, direito,
culinária, pesos e medidas, cunhagem, a Igreja oferecia uma morada
comum, na verdade um abrigo universal: o mesmo credo, os mesmos
ofícios, as mesmas missas, realizadas com os mesmos gestos, na mesma
ordem; para o mesmo fim, de um outro extremo da Europa. Nunca a
rigorosa uniformidade romana serviu melhor à humanidade que durante
esse período. Nos ofícios mais importantes da vida, até a menor das
aldeias achava-se no plano de uma metrópole. A Igreja Universal dava a
todas as comunidades, pequenas e grandes, um propósito comum"
(LewisMumfard, op. cit., págs. 290-1).
Torna-se difícil, se
não impossível, para o homem de hoje sentir em seu coração o que se
passava naqueles tempos. . . O mundo terreno possui demasiados
atrativos, as pessoas vivem ocupadas demais, a preocupação econômica
tende a tudo dominar. A intensa propaganda consumista leva à ânsia de
prazeres e de bens materiais, antepondo-se à imagem da sobrenatural.
Antes, ao inverso, a simplicidade da vida, a tenaz pregação catequista
feita pela Igreja, as idéias de Deus, da morte, de céu e de inferno
sempre presentes, tudo isso envolvia o indivíduo numa atmosfera de forte
religiosidade. A Igreja se revelava por toda parte, com sua pompa, com
seus solenes ritos litúrgicos, com procissões, festas, penitências,
peregrinações. Junto ao povo estavam bispos, padres, freiras, monges,
frades, pequenos curas de aldeia, ocupando-se das escolas, das
universidades, dos hospitais, dos asilos. Os estabelecimentos religiosos
em geral constituíam o repositório da cultura e das artes, pintura,
escultura, arquitetura, música. A inteira existência dos homens era
ritmada pelo calendário cristão, cada dia com o seu santo; pelos ritos
religiosos; pelos sinos que repicavam, desde o amanhecer até a hora da
Ave Maria" .
"Era incomum, quase inconcebível, na época, uma
sociedade religiosamente pluralista, cada grupo com sua crença, seus
templos e seus cultos, todos convivendo harmonicamente. Em clima de
liberdade e mútuo respeito. Isso só se tornou realmente viável há muito
pouco tempo, na História da humanidade"
`DEFESA DA SOCIEDADE´
Os tribunais costumavam julgar com rigor as pessoas acusadas; os
procedimentos aplicados aos réus ou aos pretensos réus eram duros e
severos. Para explicá-lo, nota o prof. J. B. Gonzaga:
"A
proliferação de crimes constituía verdadeira calamidade. Não havia
nenhuma segurança nos campos, nas estradas, nas cidades. Tudo se achava
infestado por legiões de assaltantes, muitas vezes organizados em,
bandos de assassinos, de ladrões, trapaceiros, prostitutas, mendigos,
etc. As crises periódicas por que passava a agricultura, despejavam nas
cidades multidões de desempregados e de miseráveis. As freqüentes
guerras produziam populações errantes; a soldadesca de mercenários, nos
intervalos entre os combates, não tendo o que fazer, se entregava a
assaltos e a pilhagens.
Escusa enfim desdobrar todo o triste
panorama, que facilmente imaginamos, daqueles tempos confusos.
Concomitantemente, inexistia qualquer política social eficaz. Coube
então à Justiça Penal a tarefa de suprir essa falha, contendo os
insatisfeitos e ordenando a sociedade; o que ela fez através do terror.
Dispõe o Estado hoje de certos recursos que o ajudam no trabalho de proteção social contra a delinqüência.
A moderna Criminologia desvenda as forças criminógenas, e indica os
meios de enfrentá-las. Integram-na a Sociologia, a Antropologia; a
Psicologia e Psiquiatria criminais. . . Todos os paises possuem, uma
Polícia formada por profissionais especializados no combate à
criminalidade. As cidades são bem organizadas, as ruas possuem nomes,
as casas têm números.
Conseguintemente, espera-se hoje que a
possibilidade mais fácil de serem descobertos e punidos contenha muitos
delinqüentes potenciais, de sorte que as penas podem ser mais brandas,
isto é, podem ser adequadas, com justiça, à gravidade de cada infração.
Sucede, porém, que todas as mencionadas ciências e técnicas que
auxiliam no combate à criminalidade são recentíssimas, começaram a
surgir há pouco mais de um século. Antes, se não houvesse prisão em
flagrante, as autoridades ficavam diante de imensa dificuldade para
descobrir e prender os autores dos crimes"
`CONDIÇÕES DE VIDA DAS POPULAÇÕES´
Os métodos judiciais da Idade Média eram rudes. "Isto só pode ter
existido e ter sido absorvido pela sociedade, porque as pessoas, no seu
dia-a-dia, levavam vida extremamente dura".
"Estudando a
típica cidade européia ao término da era feudal, observa Max Savelle
que, para sua defesa, ela era sempre rodeada de muralhas. 'Como as
muralhas fixavam limites ao crescimento exterior da cidade, os edifícios
no seu interior se amontoavam uns sobre os outros. Por ser difícil o
espaço, as ruas eram estreitas. Muitas vezes a lei determinava que uma
rua devia ser bastante larga para permitir que uma pessoa andasse a
cavalo no seu centro, levando uma lança atravessada na extensão da
largura. Isso estava longe de ser uma medida generosa, mas os
construtores se empoleiravam mesmo sobre essa estreita dimensão,
fazendo com que os andares superiores de suas casas se projetassem sobre
a rua. E, como as casas normalmente se erguiam à altura de quatro ou
cinco andares, isto redundava em que o sol escassamente chegava a
alcançar o leito do logradouro' (Max Savelle, História da Civilização
Mundial, vol. :2, p. 207).
Com o progressivo desenvolvimento
urbano, daí por diante as condições se foram tornando crescentemente
piores. Ruas sombrias e imundas, com os esgotos correndo a céu aberto.
Nelas, os moradores das casas jogavam seus dejetos, o lixo, as sobras
da cozinha, formando-se uma massa de podridão, revolvida pelos cães,
gatos, porcos e ratos que infestavam a cidade. O mau cheiro se
espalhava por toda parte; as enfermidades endêmicas e epidêmicas tinham
livre curso, varrendo famílias inteiras"
`A MEDICINA´
A dureza de vida, derivada de precárias condições arquitetônicas, era
aumentada pelo caráter rudimentar da Medicina da época. Eis o que
observa o Prof. J. B. Gonzaga:
"Ficamos perplexos ao imaginar
hoje a cena de um magistrado daquelas épocas: homem supostamente culto e
sensível, ordenando e presenciando a tortura do acusado que se acha à
sua mercê. Sucede entretanto que esse juiz, por hipótese, na véspera
daquele dia vira sua filha, menina ainda e inocente, ter uma perna
esmagada e por isso amputada, sem anestesia, pelo cirurgião-barbeiro.
Ou, mais prosaicamente, ele próprio tivera de sofrer, a frio, a extração
de um dente molar infeccionado. Por que, então, se iria compadecer
diante de um criminoso que presumivelmente merecia a tortura?
A
arte de curar cabia aos médicos, chamados "físicos", que haviam para
isso freqüentado cursos regulares. Abaixo deles situavam-se os
"cirurgiões-barbeiros", homens que, com a prática, haviam adquirido
aptidão para realizar alguns atos cirúrgicos: amputação de membros,
ressecção, desarticulação, redução de fraturas, lancetamento de
abscessos e tumores, etc., inclusive, às vezes, sutura de órgãos
internos rompidos. As guerras, gerando legiões de estropiados, foram
grandes fornecedoras de trabalho para esses profissionais.
A
anestesia e as regras de assepsia somente viram a difundir-se na
segunda metade do século XIX. Antes, operava-se "a frio", sendo muito
eventuais e precários os recursos anestésicos. O paciente era amarrado e
contido pelos auxiliares do cirurgião e este devia possuir rija
têmpera e coração duro para intervir ao som de lancinantes gritos de
dor. Nenhum cuidado de higiene era tomado: o operador atuava vestido com
suas roupas normais e sequer lavava as mão os instrumentos utilizados.
Findo o ato, a ferida era coberta com óleo fervente, para deter a
hemorragia e evitar a infecção; a qual, todavia, sobrevinha quase
invariavelmente. Em conseqüência, a porcentagem de óbitos era muito
elevada"
`A TORTURA´
A tortura era um processo aplicado pela Justiça civil medieval, de acordo com o costume de legislações muito antigas:
"Parece que, em maior ou menor grau, essa violência foi utilizada por
todos os povos da Antiguidade. O texto mais velho que dela nos dá
notícia acha-se em fragmento egípcio relativo a um caso de profanadores
de túmulos, no qual aparece consignado que 'se procedeu às
correspondentes averiguações, enquanto os suspeitos eram golpeados com
bastões nos pés e nas mãos'.
Dir-se-á que a tortura talvez
constitua eterna fatalidade do gênero humano e que prossegue hoje
existindo. Sim, é exato, basta lembrar o que ocorreu nos regimes
totalitários da Alemanha nazista, da Itália fascista, da Rússia
comunista. Os franceses supliciaram prisioneiros na guerra de
libertação da Argélia. Os agentes policiais, mesmo em países
civilizados, continuam utilizando tal recurso, e célebre ficou, nesse
sentido, o 'Third degree' da polícia norte-americana.
Sucede
todavia que hoje a tortura só se pratica clandestinamente, com repulsa
do Direito e da opinião pública. As leis modernas a qualificam como
crime, ameaçando com severíssimas penas seus autores. Mesmo quando
adotada por governos autoritários, ela se faz oficiosamente, às ocultas,
e tem a sua existência negada.
Nos séculos passados, ao
contrário, os suplícios foram pacificamente aceitos, como recurso normal
da Justiça, e regulamentados pelo legislador. Na Espanha, em meados do
século XIII, Afonso X, o Sábio, tranqüilizava seus súditos explicando no
Código das Sete Partidas que a tortura se justificava porque fora
adotada pelos sábios antigos (ou seja, pelos juristas romanos). Parto
VII, tít. 30, de Los Tormentos: 'Porende tenieron por bien los sabios
antiguos que fizieron tormentar aios omes, por que pudiessen saber Ia
verdad ende dellos'.
Na Alemanha, na Itália, na Espanha, em
Portugal, por toda parte torturavam-se normalmente os acusados e, às
vezes, também as testemunhas não merecedoras de fé. Em França, as
Ordenações de 1254 e todas as subseqüentes adotaram oficialmente a
questão, ou interrogatório com tormentos".
Acrescente-se o seguinte traço muito importante:
"Os historiadores estão de inteiro acordo sobre o fato de que o povo em
geral, de todas as classes sociais, aceitava pacificamente os rigores
do sistema repressivo, encarando-os com absoluta naturalidade, como algo
normal e necessário.
Os grandes juristas da época, homens
respeitados pelo saber e prudência, estruturaram e defenderam a
inquisição, com suas denúncias anônimas, seus processos secretos, o
sistema das provas legais, a tortura. Tudo isso foi aprovado pelos
Mestres Bartolo e Baldo, no século XIV; por Angelus de Aretio, no século
XV; no século XVI, por Hippolytus de Marsiliis, Julius Clarus,
Farinacius, Menochius, na Itália, Carpzov e Schwctrzehberg na Alemanha" .
`A INQUISICÃO NO SEU CONTEXTO´
O quadro geral até aqui descrito elucida, de certo modo, a mentalidade
e os costumes dos homens que viveram a Inquisição, seja como juizes,
seja como réus. A Inquisição teve seu surto em tal ambiente.
"A Inquisição equiparou-se a uma Justiça Penal, de sorte que
naturalmente adotou os modelos que vigiam nos tribunais laicos. Eram
métodos processuais que mereciam total beneplácito dos mais renomados
juristas e que estavam de acordo com os costumes. Os homens que
compunham a Igreja eram homens daquele tempo e não podiam deixar de
submeter-se às suas influências.
O procedimento dos tribunais
inquisitoriais é, para a mentalidade atual, inaceitável; mas, apesar
disso, representou um abrandamento perante o que se passava nos seus
congêneres do Estado. Não podemos julgar o que eles fizeram sem os
focalizar como órgãos condizentes com certo teor de vida, investidos de
uma missão sobrenatural e cristã a cumprir, que se ocupavam de crimes, a
seus olhos, gravíssimos, e que terão agido, em regra, com zelo,
equilíbrio e honestidade. Mister se faz acautelar-nos contra aqueles
que, no afã de denegrir a Igreja Católica, procuram criar escândalos,
só descrevem as exceções e não as regras, os abusos e não os usos. A se
crer nesses detratores da Inquisição, todo o mal estaria com os seus
juízes; todo o bem com os seus réus".
"Um aspecto a destacar é
que, mesmo quando as regras penais da Igreja tendiam para o rigor,
este, na prática, costumava ser com freqüência mitigado.
Mostra-o muito bem, comprovadamente, Jean Giraud. "As penas da
Inquisição eram freqüentemente atenuadas ou até apagadas. Não se deve
crer, por exemplo, que todo herege que figura nos Registros como
condenado ao 'muro perpétuo' haja permanecido na prisão o resto dos
seus dias. Mesmo os mais severos Inquisidores, como Bernardo de Caux,
seguiram tal orientação. Em 1246, esse juiz condenou à prisão perpétua
um herege relapso, mas na própria sentença acrescentou que, sendo o pai
do culpado bom católico, velho e doente, seu filho podia permanecer
junto a ele, enquanto vivo fosse, para lhe prestar cuidados. Quando os
detentos caíam doentes, obtinham permissão para se ir tratar fora da
prisão ou junto às suas famílias. Freqüentemente também os inquisidores
concediam atenuações e comutações de pena; por exemplo, a prisão era
substituída por uma multa, ou uma peregrinação, etc. Essa pena flexível
decorria forçosamente do caráter medicinal que lhe atribuía a Igreja"
`CONCLUSÃO´
O livro do Prof. J. B. Gonzaga é sério e imparcial. Descreve a rudez de
vida dos medievais e pós-medievais, que esclarece o fenômeno
"Inquisição".
Não poderíamos, porém, encerrar esta resenha sem
registrar que, apesar de tudo, a vida dos medievais tinha sua alegria,
seus cantos, suas danças, suas festas com espetáculos; sua poesia.
"Por toda parte floresceram as partes, a pintura, a escultura, a
arquitetura, a música, a literatura, o. teatro"
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(*) Este artigo é a síntese do estudo do livro "A INQUISIÇÃO EM SEU
MUNDO" de João Bernadino Gonzaga, publicado pela Editora Saraiva
(1993) . O autor é um leigo, titular de Direito Penal, nas Faculdades de Direito da USP e PUC de São Paulo.
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