Congregação Mariana: 450 anos unidos a Cristo pelas mãos de Maria
Uma
graça de Deus nos toca neste ano de 2013: Nossos 450 anos de história,
que começou com Pe. João Leunis,SJ no ano de 1563 no colégio Romano da
Companhia de Jesus (hoje Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma).
No
início, reuniam-se associações, com apostolado ativo, sob o patrocínio
da Virgem Maria, onde ensinavam aos jovens os princípios do Concílio de
Trento.
Naquela
época os fundadores da Associação nascente, chamada Congregação
Mariana, orientavam aqueles que nela ingressassem, a iniciarem por um
ato de consagração, imitando desta maneira Santo Inácio de Loyola, que
teve esta iniciativa, consagrando sua mudança de vida à Virgem, sua
dama. É uma profissão de fé, pois conforme o Concílio de Trento, a
Virgem Maria aos poucos vai aparecendo como aquela que vai a frente
contra os protestantes. O congregado nasce assim, como um Cavaleiro de
Maria, na defesa da fé.
Em
1578, o Superior Geral da Companhia de Jesus, Claudio Acquaviva,
entendendo o importante papel que às Congregações Marianas representavam
para o novo mundo, quer reforçá-las, quer expandi-las e daí é aprovada
as “Regras Comuns” para este exército da Virgem. Os jesuítas davam aos
leigos funções intensas, pois nova concepção de Igreja se esboçava. A
muitos, uma verdadeira revolução, onde a apologética outrora utilizada
no tempo da patrística retornava agora pelos padres jesuítas e
congregados marianos.
A
Congregação vai do colégio à cidade, atingindo todas as classes. Eram os
filhos de Santo Inácio, irradiando a boa nova. Apenas uma restrição: A
Congregação Mariana de Mulheres não deveria existir, pois a cultura da
época não permitia esta livre disposição à vida religiosa.
Foi
extraordinário o crescimento das Congregações Marianas, em plena
expansão pela Europa, constituíam uma rede, de malhas desiguais, mas bem
visível.
Ainda
no Séc. XVI, o congregado aprendia do jesuíta a usar bem o seu tempo,
regulado e regrado no seu uso. Exame de Consciência de acordo o modelo
inaciano. Destacavam as Festas Marianas. O tempo da Igreja deve ser o
tempo do indivíduo, para não haver espaço para o mal.
A
luz desta expansão no ano de 1587 o Papa Gregório XIII, poucos dias após
a morte do nosso fundador, com a Bula papal Omnipotentis Dei, designa a
Congregação Mariana do Colégio Romano como modelo de todas as demais
Congregações. Chama-lhe de prima Primária. E neste mesmo ano o Papa
Sixto V, a pedido do Geral da Companhia de Jesus, publica a Bula Suprema
Dispositione, que confere ao Geral o direito de agregar à Prima
Primária Congregações, formadas por pessoas que não fossem alunos das
Escolas jesuítas.
No
Brasil, entre os índios e nos colégios administrados pelos jesuítas é
fomentada a devoção a Nossa Senhora. A primeira Igreja, construída pelos
jesuítas, teve a invocação de Nossa Senhora da Ajuda, na Bahia, e pouco
depois outra recebeu o mesmo nome em Porto Seguro. Surgiram outras,
como: Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora da Conceição, Nossa
Senhora das Graças, Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora da Escada,
Nossa Senhora da Paz, Nossa Senhora do Rosário.
Não
havia ainda no Brasil idéia nítida do que era a Congregação Mariana, do
Colégio Romano. Mas, para a maior glória de Deus, a primeira
Congregação Mariana, canonicamente ereta no Brasil, data de 8 de agosto
de 1586, na Bahia com a aprovação de Dom Antonio de Barreiros,
Cisterciense, daí foram se espalhando pelo Rio de Janeiro e Pernambuco.
2. Começa o Século XVII
A
imaginação deve ser dominada. A confissão é valorizada. Havia o lema
para os congregados: “Ser congregado é saber confessar”. O verdadeiro
mariano precisa trabalhar seu interior.
Em
um processo de transformação da sociedade, o homem daquela época
radicalmente, opta pelo seu corpo, e começam atos de penitência,
mortificação e ódio à impureza, que se tornam destaques neste século,
sendo a condenação da carne viver numa atmosfera de terror.
Mas,
as congregações se adaptam ao tempo e passa a ser uma construção
querida e maduramente refletida cujo fim é a conversão das almas. Por
isso dezenas de burgueses e de clérigos abraçam esta grande obra.
A
preocupação com os futuros sacerdotes, a luz dos vícios existentes a
época, os jesuítas fundam Congregações Marianas em seminários, para
reformar o clero. Mas, não param por aí, pensavam nos grandes e se
aproximam de reis e rainhas, de modo a mostrar, pelo exemplo e também
por conselhos e sugestões, a conduta que deveriam ter.
Em
pouco tempo a Europa estava cheia de Congregações Marianas, onde cada
Congregado era chamado a servir de modelo para os outros. Mas, é
impossível ignorar a manipulação de muitos que se serviam das
Congregações para serem promovidos a fins políticos.
Podemos
dizer que o século XVII foi o ponto alto da vida das Congregações
Marianas, mas também início do seu afastamento do espírito original.
3. Tempos de crise
Os
fundadores das Congregações Marianas queriam transformar o mundo e as
Congregações se estabelecem entre todas as categorias da população.
Então podemos ver Congregados participando até de movimentos
insurrecionais. O cuidado dos pobres e, sobretudo pelos mais pobres,
sempre foi destaque nas Congregações Marianas, com visita regular aos
hospitais, às prisões, isto era ponto de honra e de regra.
A
fidelidade da luta contra o protestantismo, onde a Igreja estivesse
ameaçada continuou através do século XVII e vai até século XVIII. Outro
ponto era a defesa da família, marcada pela revalorização do matrimônio.
As
Congregações, não param, pensam e organizam a vida religiosa; propagam
devoções novas, como a via sacra, procissões, penitências, mortificações
públicas e em particular as peregrinações aos santuários dedicados à
Virgem Maria.
Após
todos estes progressos, começa o declínio das Congregações Marianas,
especialmente na França, decai tremendamente. O novo modo de pensar do
ser humano, com a colocação da “Razão” como símbolo da verdade e não
mais a Deus.
Profundas
modificações sócio-econômicas, como o êxodo rural, pessoas em busca de
melhores salários nas cidades. Surge também, o verdadeiro espírito de
contestação nas cidades pela exploração da mão de obra, desta forma às
Congregações Marianas irão ficando à margem e começam acusações
despropositadas contra os jesuítas, dizendo que às congregações são um
grupo de maçonaria dos jesuítas. Acusam as congregações de microcosmo da
cidade, devido aos oratórios particulares. Então, no ano de 1761, em
Paris, o Parlamento impôs o cancelamento de todos os grupos ligados aos
jesuítas.
No
ano de 1773, no dia 21 de Julho, acontece a supressão da Companhia de
Jesus, por Clemente XIV. Onde, vinte mil jesuítas são dispersos, mas o
Decreto Papal não é proclamado na Rússia (que dominava a Polónia) nem na
Prússia, por oposição de Catarina II e de Frederico II. Nestes
territórios mantiveram-se os jesuítas e as Congregações Marianas a eles
ligadas.
No
dia 14 de Novembro, do mesmo ano: o Papa autoriza a continuação das
Congregações Marianas, que passam a depender da jurisdição de um Bispo.
Dá-se inevitavelmente a perda do espírito inicial, muito ligado aos
Exercícios Espirituais e à preocupação pelos socialmente excluídos,
convertendo-se as Congregações Marianas num movimento de piedade, de
expansão crescente.
Mas na Alemanha do século XVIII,
curiosamente, a terra de Martinho Lutero, principalmente nas regiões da
Baviera e Alsácia, as Congregações Marianas prosperam.
4. Novos tempos
Em
1814 com a restauração da Companhia de Jesus, pelo Papa Pio VII, a 7 de
Agosto, termina-se o êxodo e a esperança de retorno pela reconstrução
daquilo que se perdera. Mas, nada será como antes!
Os
jesuítas criam ao lado das Congregações, novas associações, como a
Confraria da Boa Morte; Liga de São Luiz Gonzaga; Novena da Graça de São
Francisco Xavier e os Exercícios Espirituais que eram exclusivos aos
religiosos e seminaristas são abertos aos leigos. A partir destas
iniciativas, penetrarão nas missões populares; as mulheres
definitivamente entram nas CC.MM., mas cabe lembrar, que de forma tímida
as mulheres já participavam desde 1707.
Deste
modo, surgem acusações dos adversários dos jesuítas, que viam nos
movimentos leigos, possíveis instrumentos de subversão da ordem social.
A
renovação das Congregações Marianas na virada dos séculos XVIII para o
XIX é muito tímida, devido à descristianização em vigor na Europa das
luzes.
5. Uma nova formação e novas práticas
No
final do Século XVIII é bem notória a preferência da Igreja pelos
pobres. Os humildes constituem o verdadeiro povo cristão: é a classe
média que vai surgindo.
Insistência
para que o jovem trabalhador se torne operário qualificado, sendo
profissional competente, atualizado, impondo-se assim a seus
companheiros de trabalho. Tempos modernos de competência e eficácia; as
virtudes do bom operário coincidem com as virtudes do bom cristão. O
católico deve estar entre os melhores de sua profissão.
O
Iluminismo, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e o
desenvolvimento das cidades transformarão a Europa. Mas, as Congregações
Marianas e outros movimentos serão os guardiões dos valores
tradicionais. Aqui se observam os primeiros sinais anunciadores do
sindicalismo cristão e da democracia cristã.
Na
onda da Revolução Francesa, se unem congregados e maçons, mas à medida
que o tempo passa tal união se torna inexpressiva. Novas congregações
surgem. No século XIX surge a primeira obra operária, criada pela
Congregação Mariana de Paris em 1822, cujo fim é preservar os jovens
trabalhadores de todas as influências más. Os congregados perceberam que
a miséria dos operários era maior do que parecia. Em 1891 o Papa Leão
XIII publica a Rerum Novarum (sobre a condição dos operários).
O
operário cristão, no grêmio das Congregações Marianas toma claramente
consciência de sua condição e de sua solidariedade com seus companheiros
de trabalho e também possuem suas responsabilidades. Estava sendo
formada a elite do sindicalismo cristão.
Deste
modo, as Congregações entre 1750-1850 foram sustentáculos ativos da
união entre trono e altar, tornaram-se lugar onde se forjaram os
primeiros defensores da democracia cristã e os militantes da ação cristã
e os militantes da ação social e operária.
Graças
às Congregações Marianas, surgiu o esboço de uma pastoral mais adaptada
ao meio. Verdadeira promoção do leigo. Não foram apenas os homens e
jovens, mas também as mulheres e crianças, enfim, toda uma sociedade foi
atingida pelas Congregações Marianas. Não é mais o indivíduo isolado
visado para a conversão, mas toda a família é chamada a ser objeto do
apostolado.
As
Congregações Marianas mostraram-se solícitas em preservar a tradição,
mas fazendo seus associados abertos ao mundo moderno, às preocupações
pelos outros, pobres e ricos. Deste modo as Congregações Marianas no
início do Século XIX fazem opção de um autêntico anúncio que mais tarde
chamar-se-á democracia cristã.
6. União e Antagonismos
O
século XIX nada foi fácil para os Jesuítas, mas como as congregações
agora estão dispersas, umas sob a égide dos jesuítas e outras
paroquiais, outras ainda sob a direção de outras ordens religiosas,
ficava difícil manter a mesma linha proposta em sua criação.
No
Século XX, o Secretariado Central, em Roma, no ano de 1922, a partir da
iniciativa do padre Ledochowski, geral dos jesuítas, reuniu pela
primeira vez os que trabalhavam pelas Congregações Marianas, cujo
principal objetivo era: construir um Secretariado Internacional que
promovesse a existência das Congregações Marianas, que lhes desse uma
inspiração e que servisse para a criação de Federações Nacionais.
Em
1948 existiam no mundo cerca de 80.000 congregações agregadas à Prima
Primária, formada de homens e mulheres, adultos e jovens e curiosamente
apenas 5% deste efetivo estava ligado aos jesuítas, os 95% restantes,
estavam ligados as dioceses urbanas e rurais e outras ordens religiosas.
O Secretariado visava o caráter de líderes espirituais, inclusive de leigos, para:
- Fortalecer o Carisma Inaciano;
- Capacidade de transmissão;
- Sentido da Missão;
- Responsabilidade Laical;
Em
1939, é elevado ao pontificado o Papa Pio XII, que bem conhecia a
estrutura e forma das Congregações Marianas e era amigo pessoal do Pe.
Emile Villaret,SJ (grande autor da história das Congregações Marianas).
Em seu pontificado surge a Constituição Apostólica Bis Saeculari Die,
que dá autenticidade às Congregações Marianas e significa um apelo em
profundidade, com nova concepção do apostolado leigo. O Papa Pio XII
dera forma oficial à Ação Católica e muito pensava no apostolado leigo,
que de algum modo, devia ser parte central do movimento oficial da
Igreja.
As
Congregações Marianas eram uma forma especial e eminente da Ação
Católica, afirmava o papa Pio XII; assim, abre o caminho para uma
evolução no apostolado dos leigos. E insiste, na prioridade absoluta dos
Exercícios Espirituais, como fonte de vida para as Congregações
Marianas e as convida a uma contínua renovação.
Chegamos
a 1950, o Pe. Janssens, novo Geral da Companhia de Jesus faz a pergunta
a ser discutida: “O que devemos fazer para responder à Constituição
Apostólica Bis Saeculari Die?” Pois, entendia que a maior dificuldade
era a comparação com as Regras publicadas em 1910, que a partir da
Constituição do Papa, precisava ser revista.
No
ano de 1951 acontece o Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos,
nota-se que não há nenhum órgão de âmbito mundial que as represente.
Isto faz urgente promover uma Federação Mundial das Congregações
Marianas, que reúna e canalize todas as atividades das diversas
delegações.
Assim,
em 1953 foi apresentado por iniciativa do Papa Pio XII, o Projeto do
Estatuto da Federação Mundial. E, no ano de 1954, na Cidade Eterna,
acontece à primeira Assembléia Mundial, onde foi aprovada a autonomia e
independência das Congregações em relação ao secretariado dos jesuítas.
No
ano de 1959, na segunda Assembléia em Newark (USA), são dados os
primeiros passos em direção aos Princípios Gerais e à autonomia das
Congregações Marianas.
Em
1964, na III Assembléia da Federação Mundial, em Bombaim (Índia). Os
“Princípios Gerais” foram aprovados, mas decide-se esperar pelo fim do
Concílio Vaticano II (1962-1965) para a sua promulgação.
No
período entre os anos de 1927 a 1967, desenvolve-se no Brasil a Onda
Azul do Marianismo; acontece a primeira concentração católica após a
Revolução de 1930, onde é festejada a vinda da imagem da Virgem
Aparecida, na então capital do Brasil, cidade do Rio de Janeiro. Vale
registrar a declaração de Dom Sebastião Leme (cardeal do Rio de
Janeiro): “o impulso fora dado! O Brasil tinha agora uma outra ‘Rainha’ e
ela comandaria um exército predileto, uma ‘Acies Ordinata’ em luta
contra o inimigo mortal: o comunismo. E iria dar alento novo ao combate,
o famoso slogan: A FITA AZUL SALVARÁ O BRASIL, contra o ‘vermelho’”.
Acontece
o Concílio Vaticano II (1962-1965), com o objetivo de discutir a ação
da Igreja nos tempos atuais, ou seja, a sua finalidade é “promover o
incremento da fé católica e uma saudável renovação dos costumes do povo cristão, e adaptar a disciplina eclesiástica às condições do nosso tempo” e do mundo moderno. Por outras palavras, o Concílio pretende o Aggiornamento (atualização e abertura) da Igreja.
Então,
a partir da influência dos novos tempos, no ano de 1967 foram aprovados
no III Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos os Princípios Gerais
das Congregações Marianas, mas, no mesmo ano, acontece a IV Assembléia
Mundial das Congregações Marianas, em Roma. Um nome novo é proposto:
“Comunidades de Vida Cristã”; novos Estatutos; novos “Princípios
Gerais”; novo título para a Revista (“Progressio”); normas jurídicas que
dão à Federação Mundial autonomia e a tornam garantia de unidade, em
lugar da Prima Primária.
7. Fim das Congregações Marianas?
Não
foi o fim, mas um recomeço, pois desde 1970 as Congregações Marianas
passaram a existir vinculadas à Federação Mundial das Comunidades de
Vida Cristã (CVX), mas houve um grande esvaziamento das Congregações e
nas lideranças que se mantinham fiéis, foi despertado o desejo de uma
volta ao estilo tradicional, ao seu estilo dos últimos cinqüenta anos.
Não
houve avanço, e sim retrocesso. Em 1988, a CVX, mantinha as
Congregações Marianas como representantes no Brasil, desta forma o
Brasil mantinha no Conselho Mundial dupla representação (CVX e CCMM).
Então,
no ano de 1991, em reunião dos dirigentes marianos, na cidade de
Aparecida,SP, as Congregações Marianas passam a ser uma associação
religiosa de leigos, autônoma, com uma Regra de Vida própria, com
espiritualidade mariana, trabalho apostólico e estrutura organizacional
própria. Esta decisão foi homologada, pelo então cardeal Dom Eugênio
Sales.
Em
novembro de 1992, foram aprovadas as Regras de Vida, sob a coordenação
do vice-assistente nacional Dom José Carlos de Lima Vaz,SJ e homologado
por Dom Eugênio de Araújo Sales.
Em
março de 1993 o Conselho Executivo da CVX concorda por unanimidade, em
admitir as Congregações Marianas do Brasil como membro associado, de
acordo com as normas da CVX.
Em
maio do mesmo ano a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
erigiu canonicamente as Congregações Marianas do Brasil como associação
pública de âmbito nacional e aprovou o texto da regra de Vida,
designando o Cardeal Dom Eugênio de Araujo Sales, como Assistente
Eclesiástico Nacional.
Ainda
neste ano, os decretos da CNBB e o texto da Regra de Vida foram
encaminhados pelo Cardeal Dom Eugênio Sales ao Pontifício Conselho dos
Leigos em Roma, onde houve resposta positiva por este Conselho sob a
liderança do cardeal Pirônio.
Assim,
as Congregações Marianas do Brasil obtiveram, finalmente, após 23 anos
de uma situação que lhes desfigurou e enfraqueceu a identidade na vida
da Igreja do Brasil, uma fisionomia própria como instituição, como
proposta de anos de vida espiritual, como instrumento da Igreja no seu
trabalho apostólico e como uma estrutura associativa organizada.
8. Ano de 2013, 450 depois. Olhar a frente!
Hoje,
com um olhar na história das Congregações Marianas, temos um futuro
pela frente. Como continuar esta bela história em um mundo tão diverso.
“Antes de programarmos iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade de comunhão, ou seja: ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade. Espiritualidade de Comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo Místico,
isto é, como um que faz parte de mim, para saber partilhar suas
alegrias e os seus sofrimentos. Espiritualidade de Comunhão é ainda a capacidade de ver antes de tudo o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como Dom de Deus. E, ainda Espiritualidade de Comunhão é saber criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos outros (Gl
6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram
competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes. Não haja ilusões! Sem essa
caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da
comunhão”. (cf. Bt João Paulo II, Carta Apostólica “No Início do Novo
Milênio”)
A
visão histórica e real dos tempos que acompanham a evolução das
Congregações Marianas nos aponta inúmeros desafios que devem ser
afrontados e vencidos antes que o materialismo apague nosso ideal, nosso
entusiasmo e afogue a nossa entrega a Maria para chegarmos a Jesus.
Tais
desafios no campo do conhecimento, da ciência e da técnica exigem
Congregados plenamente inseridos, conscientes e atuantes, na sociedade.
Já não se concebe mais um Congregado “Maria vai com as outras”, mas que
seja indagador e, no limite do possível, contestador diante do erro.
O
Congregado de hoje deve esforçar-se para assimilar os dois lados da
balança: A Ciência do Conhecimento e a Espiritualidade da Doutrina. O
prevalecimento de um destes lados sobre o outro o torna manco ou
alienado o que seria comprometedor nos tempos de hoje.
Uma
vez que as CCMM não podem ser mudadas, só fica uma saída: que os
Congregados Marianos se mudem, ou como todos esperamos, se mudem
ficando.
Por
isso, precisamos iniciar no Brasil uma verdadeira “CRUZADA POR UM
MARIANISMO MAIS ESCLARECIDO”, escolhendo somente pessoas que sejam
capazes de se tornarem verdadeiros Congregados Marianos, formando mais
seriamente nossos aspirantes e candidatos, de acordo com nossa Regra de
Vida.
À luz da sociedade atual, como deve ser o Congregado Mariano?
O
congregado de hoje deve estar de acordo com as exigências de nosso
tempo. E o nosso tempo exige, além dos conhecimentos institucionais e
profissionais, realizarem sua vocação espiritual com:
- A busca da santidade;
- A vivência da oração;
- A Eucaristia dominical;
- O sacramento da reconciliação;
- O primado da graça (haver dentro das congregações marianas espaço para a oração pessoal e comunitária que é um princípio essencial da visão cristã de vida);
- A escuta da palavra;
- O anúncio da palavra;
- A busca da espiritualidade de comunhão;
- O respeito às variedades de vocações;
- O trabalho pelo empenho ecumênico;
- O abrir-se à caridade fraterna.
9. Ano 1563 nascemos do esforço de um jesuíta. Ano 2013 um jesuíta se torna Papa
Diz-nos
o Papa Francisco, na homilia (na Domus Sanctae Marthae na terça-feira,
16 de abril) que o Concílio Vaticano II é “fruto do Espírito”, mas
muitos querem retroceder. O Concílio permaneceu sem ser aplicado.
Por isso, o Vaticano II representa
uma oportunidade histórica para uma grande revolução eclesiástica que
ainda não se levou completamente a cabo. Graças ao espírito conciliar, a
Igreja abriu-se para o mundo, mas ainda há muito caminho pela frente.
Há
algumas vozes que querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, isto
significa querer domesticar o Espírito Santo, isto é ser tolo e lento de
coração. O mesmo acontece, inclusive na nossa vida pessoal: de fato, o
Espírito nos impulsiona a tomar um caminho mais evangélico, mas nós
resistimos. É por isso que o Papa Francisco lançou a
seguinte exortação: “Não oponhamos resistência ao Espírito Santo. É o
Espírito que nos torna livres, com essa liberdade de Jesus, com essa
liberdade de filhos de Deus!”.
“Não opor resistências ao Espírito Santo: esta é – concluiu Francisco –
a graça que queria que todos nós pedíssemos ao Senhor: a docilidade ao
Espírito Santo, a esse Espírito que vem para nós e nos faz seguir em
frente no caminho da santidade, essa santidade tão bela da Igreja. A
graça da docilidade ao Espírito Santo”. Conforme bem viveu a Virgem
Maria, basta contemplarmos a Anunciação.
O
Concílio foi um evento extraordinário e não apenas para a Igreja, mas
para todo o mundo. A Igreja, finalmente, foi entendida como Povo de
Deus, e as hierarquias colocaram-se a serviço dos fiéis, e vice-versa.
“Também Jesus – observou o Papa – repreendeu os discípulos de Emaús”,
porque eram lentos para crer em tudo o que os profetas haviam anunciado.
10. A Igreja eterna no tempo avança.
Sigamos
em frente, com esperança! Diante da Congregação Mariana abre-se um
vasto oceano onde devemos nos aventurar com a ajuda de Jesus Cristo.
O
mandato missionário nos impulsiona, convidando-nos a ter o mesmo
entusiasmo dos cristãos da primeira hora; podemos contar com a força do
mesmo Espírito que foi derramado no Pentecostes e nos impele ainda hoje.
Nosso
passo tem de tornar-se mais rápido para percorrer as estradas do
mundo. E, neste caminho acompanha-nos a Virgem Maria a quem foi
confiado o terceiro milênio, como “Estrela da nova Evangelização”.
Maria Santíssima é a aurora luminosa e guia segura do nosso caminho.
“Mulher, eis aqui os teus filhos” (Jo 18,26).
Assim,
devemos ocupar nosso espaço para a construção do Reino, fazendo em
nosso trabalho “tudo para a maior glória de Deus”, lembrando de nossas
gloriosas tradições.
Apontando
ao Documento de Aparecida (DA), lembramos que ser Congregado Mariano é
fruto de uma grande alegria, pois descobrimos que “ser cristão não é uma
carga, mas um dom” (DA 28). Por isto, o Congregado Mariano festejando
seus 450 anos de serviço a Igreja, com orgulho poderá dizer que
“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber;
tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo
conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria“. (DA 29)
Parabéns Congregados Marianos e avante! Salve Maria!
Eduardo L. Caridade
CM NS Aparecida e S. Sebastião, Engenho de Dentro, RJ
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