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No Egito, Papa Francisco urge consagrados a resistirem estas 7 tentações



 
Em seu segundo e último dia de viagem apostólica ao Egito, o Santo Padre
teve um encontro com religiosos e consagrados e urgiu todos aqueles que
optaram por consagrar suas vidas ao serviço de Deus e da Igreja a superar 7 tentações presentes no mundo de hoje.
A seguir, o discurso do Papa aos consagrados na íntegra:



Beatitudes,

Queridos irmãos e irmãs,

Al Salamò Alaikum! A paz esteja convosco!



«Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos n’Ele! Cristo venceu a morte para sempre, alegremo-nos n’Ele!»

Sinto-me feliz por me encontrar entre vós neste lugar, onde se formam os
sacerdotes e que representa o coração da Igreja Católica no Egito.
Sinto-me feliz por saudar em vós – sacerdotes, consagrados e consagradas
do pequeno rebanho católico no Egito – o «fermento» que Deus prepara
para esta terra abençoada, para que, juntamente com os nossos irmãos
ortodoxos, cresça nela o seu Reino (cf. Mt 13, 33).

Desejo, antes de mais nada, agradecer o vosso testemunho e todo o bem
que fazeis cada dia, trabalhando no meio de muitos desafios e,
frequentemente, poucas consolações. Desejo também encorajar-vos. Não
tenhais medo do peso do dia-a-dia, do peso das circunstâncias difíceis
que alguns de vós têm de atravessar. Nós veneramos a Santa Cruz,
instrumento e sinal da nossa salvação. Quem escapa da cruz, escapa da
Ressurreição. «Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso
Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32).

Trata-se, pois, de crer, testemunhar a verdade, semear e cultivar sem
esperar pela colheita. Na realidade, nós recolhemos os frutos de muitos
outros, consagrados e não consagrados, que generosamente trabalharam na
vinha do Senhor: a vossa história está cheia deles!

No meio de muitos motivos de desânimo e por entre tantos profetas de
destruição e condenação, no meio de numerosas vozes negativas e
desesperadas, sede uma força positiva, sede luz e sal desta sociedade;
sede a locomotiva que faz o comboio avançar para a meta; sede semeadores
de esperança, construtores de pontes, obreiros de diálogo e de
concórdia.

Isto é possível se a pessoa consagrada não ceder às tentações que todos
os dias encontra no seu caminho. Gostaria de evidenciar algumas dentre
as mais significativas.

1. A tentação de deixar-se arrastar e não guiar. O bom pastor tem o
dever de guiar o rebanho (cf. Jo 10, 3-4), de o conduzir a pastagens
verdejantes e até à nascente das águas (cf. Sal 23/22, 2). Não pode
deixar-se arrastar pelo desânimo e o pessimismo: «Que posso fazer?»
Aparece sempre cheio de iniciativas e de criatividade, como uma fonte
que jorra mesmo quando vem a seca; sempre oferece a carícia da
consolação, mesmo quando o seu coração está alquebrado; é um pai quando
os filhos o tratam com gratidão, mas sobretudo quando não lhe são
agradecidos (cf. Lc 15, 11-32). A nossa fidelidade ao Senhor nunca deve
depender da gratidão humana: «teu Pai, que vê o oculto, há de
recompensar-te» (Mt 6, 4.6.18).

2. A tentação de lamentar-se continuamente. Sempre é fácil acusar os
outros: as faltas dos superiores, as condições eclesiais ou sociais, as
escassas possibilidades… Mas a pessoa consagrada é alguém que, pela
unção do Espírito, transforma cada obstáculo em oportunidade, e não cada
dificuldade em desculpa! Na realidade, quem se lamenta sempre é uma
pessoa que não quer trabalhar. Por isso o Senhor, dirigindo-Se aos
pastores, disse: «Levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos
enfraquecidos» (Heb 12, 12; cf. Is 35, 3).

3. A tentação da crítica e da inveja. O perigo é sério, quando a pessoa
consagrada, em vez de ajudar os pequenos a crescer e a alegrar-se com os
sucessos dos irmãos e irmãs, se deixa dominar pela inveja tornando-se
numa pessoa que fere os outros com a crítica. Quando, em vez de se
esforçar por crescer, começa a destruir aqueles que estão crescendo; em
vez de seguir os bons exemplos, julga-os e diminui o seu valor. A inveja
é um câncer que arruína qualquer corpo em pouco tempo: «Se um reino se
dividir contra si mesmo, tal reino não pode perdurar; e se uma família
se dividir contra si mesma, essa família não pode subsistir» (Mc 3,
24-25). Com efeito, «por inveja do diabo é que a morte entrou no mundo»
(Sab 2, 24). E a crítica é o seu instrumento e a sua arma.

4. A tentação de se comparar com os outros. A riqueza reside na
diferença e na unicidade de cada um de nós. Comparar-nos com aqueles que
estão melhor, leva-nos frequentemente a cair no rancor; comparar-nos
com aqueles que estão pior, leva-nos muitas vezes a cair na soberba e na
preguiça. Quem tende sempre a comparar-se com os outros, acaba por se
paralisar. Aprendamos de São Pedro e São Paulo a viver a diferença dos
caráteres, dos carismas e das opiniões na escuta e docilidade ao
Espírito Santo.

5. A tentação do «faraonismo», isto é, de endurecer o coração e fechá-lo
ao Senhor e aos irmãos. É a tentação de se sentir acima dos outros e,
consequentemente, de os submeter a si por vanglória; de ter a presunção
de ser servido em vez de servir. É uma tentação comum, desde o início,
entre os discípulos, os quais – diz o Evangelho –, «no caminho, tinham
discutido uns com os outros, sobre qual deles era o maior» (Mc 9, 34). O
antídoto para este veneno é o seguinte: «Se alguém quiser ser o
primeiro, há de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35)

6. A tentação do individualismo. Como diz o conhecido provérbio egípcio:
«Eu e, depois de mim, o dilúvio». É a tentação dos egoístas que, ao
caminhar, perdem a noção do objetivo e, em vez de pensar nos outros,
pensam em si mesmos, sem sentir qualquer vergonha; antes,
justificando-se. A Igreja é a comunidade dos fiéis, o corpo de Cristo,
onde a salvação de um membro está ligada à santidade de todos (cf. 1 Cor
12, 12-27; Lumen gentium, 7). Ao contrário, o individualista é motivo
de escândalo e conflitualidade.

7. A tentação de caminhar sem bússola nem objetivo. A pessoa consagrada
perde a sua identidade e começa a «não ser carne nem peixe». Vive com o
coração dividido entre Deus e a mundanidade. Esquece o seu primeiro amor
(Ap 2, 4). Na realidade, sem uma identidade clara e sólida, a pessoa
consagrada caminha sem direção e, em vez de guiar os outros,
dispersa-os. A vossa identidade como filhos da Igreja é ser coptas –
isto é, radicados nas vossas raízes nobres e antigas – e ser católicos –
isto é, parte da Igreja una e universal: como uma árvore que quanto
mais enraizada está na terra tanto mais alta se eleva no céu.

Queridos consagrados, não é fácil resistir a estas tentações, mas é
possível se estivermos enxertados em Jesus: «Permanecei em Mim, que Eu
permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas
só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não
permanecerdes em Mim» (Jo 15, 4). Quanto mais enraizados estivermos em
Cristo, tanto mais vivos e fecundos seremos. Só assim pode a pessoa
consagrada conservar a capacidade de maravilhar-se, a paixão do primeiro
encontro, o fascínio e a gratidão na sua vida com Deus e na sua missão. Da qualidade da nossa vida espiritual depende a da nossa consagração.

O Egito contribuiu para enriquecer a Igreja com o tesouro inestimável da
vida monástica. Exorto-vos, pois, a beber do exemplo de São Paulo o
Eremita, de Santo Antão, dos Santos Padres do deserto, dos numerosos
monges que abriram, com a sua vida e o seu exemplo, as portas do céu a
muitos irmãos e irmãs; e assim também vós podereis ser luz e sal, isto
é, motivo de salvação para vós próprios e para todos os outros, crentes e
não-crentes, e de modo especial para os últimos, os necessitados, os
abandonados e os descartados.

A Sagrada Família vos proteja e abençoe a todos vós, ao vosso país com
todos os seus habitantes. Do fundo do meu coração, desejo tudo de melhor
a cada um de vós e, por vosso intermédio, saúdo os fiéis que Deus
confiou aos vossos cuidados. O Senhor vos conceda os frutos do seu Santo
Espírito: «amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gal 5, 22).

Sempre vos terei presente no meu coração e na minha oração. Coragem e
avante, com o Espírito Santo! «Este é o dia que o Senhor fez,
alegremo-nos n’Ele!» E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.





fonte: ACI digital

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