Orlando Braga | O indivíduo das elites, em geral, “bloqueou”: não consegue ver um palmo à frente do nariz. O suicídio de Kate Barry (filha da atriz Jane Birkin) chocou-me, como me chocam todos os suicídios. Mas tratando-se de uma figura pública que não vivia propriamente na pobreza, o seu suicídio torna-se ainda mais incompreensível. Podemos compreender (embora não aceitar), por exemplo, que um sem-abrigo que vive em um estado de pobreza extrema se suicide: neste caso, os problemas de sobrevivência e de auto-conservação são objetivos, concretos e muitas vezes quase incontornáveis; muita gente que se suicida comete esse acto por uma questão de quase impossibilidade de sobrevivência física e biológica, e não porque ande psicologicamente frustrada em relação à sua vidinha. Naturalmente que podemos sempre especular sobre as razões de Kate Barry (de 46 anos!) para acabar com a sua vida, e a especulação é, nestes casos, má-c