Pular para o conteúdo principal

Congregação Mariana: 450 anos unidos a Cristo pelas mãos de Maria


1. Nos primórdios
Uma graça de Deus nos toca neste ano de 2013: Nossos 450 anos de história, que começou com Pe. João Leunis,SJ no ano de 1563 no colégio Romano da Companhia de Jesus (hoje Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma).
No início, reuniam-se associações, com apostolado ativo, sob o patrocínio da Virgem Maria, onde ensinavam aos jovens os princípios do Concílio de Trento.
Naquela época os fundadores da Associação nascente, chamada Congregação Mariana, orientavam aqueles que nela ingressassem, a iniciarem por um ato de consagração, imitando desta maneira Santo Inácio de Loyola, que teve esta iniciativa, consagrando sua mudança de vida à Virgem, sua dama. É uma profissão de fé, pois conforme o Concílio de Trento, a Virgem Maria aos poucos vai aparecendo como aquela que vai a frente contra os protestantes. O congregado nasce assim, como um Cavaleiro de Maria, na defesa da fé.
Em 1578, o Superior Geral da Companhia de Jesus, Claudio Acquaviva, entendendo o importante papel que às Congregações Marianas representavam para o novo mundo, quer reforçá-las, quer expandi-las e daí é aprovada as “Regras Comuns” para este exército da Virgem. Os jesuítas davam aos leigos funções intensas, pois nova concepção de Igreja se esboçava. A muitos, uma verdadeira revolução, onde a apologética outrora utilizada no tempo da patrística retornava agora pelos padres jesuítas e congregados marianos.
A Congregação vai do colégio à cidade, atingindo todas as classes. Eram os filhos de Santo Inácio, irradiando a boa nova. Apenas uma restrição: A Congregação Mariana de Mulheres não deveria existir, pois a cultura da época não permitia esta livre disposição à vida religiosa.
Foi extraordinário o crescimento das Congregações Marianas, em plena expansão pela Europa, constituíam uma rede, de malhas desiguais, mas bem visível.
Ainda no Séc. XVI, o congregado aprendia do jesuíta a usar bem o seu tempo, regulado e regrado no seu uso. Exame de Consciência de acordo o modelo inaciano. Destacavam as Festas Marianas. O tempo da Igreja deve ser o tempo do indivíduo, para não haver espaço para o mal.
A luz desta expansão no ano de 1587 o Papa Gregório XIII, poucos dias após a morte do nosso fundador, com a Bula papal Omnipotentis Dei, designa a Congregação Mariana do Colégio Romano como modelo de todas as demais Congregações. Chama-lhe de prima Primária. E neste mesmo ano o Papa Sixto V, a pedido do Geral da Companhia de Jesus, publica a Bula Suprema Dispositione, que confere ao Geral o direito de agregar à Prima Primária Congregações, formadas por pessoas que não fossem alunos das Escolas jesuítas.
No Brasil, entre os índios e nos colégios administrados pelos jesuítas é fomentada a devoção a Nossa Senhora. A primeira Igreja, construída pelos jesuítas, teve a invocação de Nossa Senhora da Ajuda, na Bahia, e pouco depois outra recebeu o mesmo nome em Porto Seguro. Surgiram outras, como: Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora da Escada, Nossa Senhora da Paz, Nossa Senhora do Rosário.
Não havia ainda no Brasil idéia nítida do que era a Congregação Mariana, do Colégio Romano. Mas, para a maior glória de Deus, a primeira Congregação Mariana, canonicamente ereta no Brasil, data de 8 de agosto de 1586, na Bahia com a aprovação de Dom Antonio de Barreiros, Cisterciense, daí foram se espalhando pelo Rio de Janeiro e Pernambuco.

2. Começa o Século XVII

A imaginação deve ser dominada. A confissão é valorizada. Havia o lema para os congregados: “Ser congregado é saber confessar”. O verdadeiro mariano precisa trabalhar seu interior.
Em um processo de transformação da sociedade, o homem daquela época radicalmente, opta pelo seu corpo, e começam atos de penitência, mortificação e ódio à impureza, que se tornam destaques neste século, sendo a condenação da carne viver numa atmosfera de terror.
Mas, as congregações se adaptam ao tempo e passa a ser uma construção querida e maduramente refletida cujo fim é a conversão das almas. Por isso dezenas de burgueses e de clérigos abraçam esta grande obra.
A preocupação com os futuros sacerdotes, a luz dos vícios existentes a época, os jesuítas fundam Congregações Marianas em seminários, para reformar o clero. Mas, não param por aí, pensavam nos grandes e se aproximam de reis e rainhas, de modo a mostrar, pelo exemplo e também por conselhos e sugestões, a conduta que deveriam ter.
Em pouco tempo a Europa estava cheia de Congregações Marianas, onde cada Congregado era chamado a servir de modelo para os outros. Mas, é impossível ignorar a manipulação de muitos que se serviam das Congregações para serem promovidos a fins políticos.
Podemos dizer que o século XVII foi o ponto alto da vida das Congregações Marianas, mas também início do seu afastamento do espírito original.

3. Tempos de crise

Os fundadores das Congregações Marianas queriam transformar o mundo e as Congregações se estabelecem entre todas as categorias da população. Então podemos ver Congregados participando até de movimentos insurrecionais. O cuidado dos pobres e, sobretudo pelos mais pobres, sempre foi destaque nas Congregações Marianas, com visita regular aos hospitais, às prisões, isto era ponto de honra e de regra.
A fidelidade da luta contra o protestantismo, onde a Igreja estivesse ameaçada continuou através do século XVII e vai até século XVIII. Outro ponto era a defesa da família, marcada pela revalorização do matrimônio.
As Congregações, não param, pensam e organizam a vida religiosa; propagam devoções novas, como a via sacra, procissões, penitências, mortificações públicas e em particular as peregrinações aos santuários dedicados à Virgem Maria.
Após todos estes progressos, começa o declínio das Congregações Marianas, especialmente na França, decai tremendamente. O novo modo de pensar do ser humano, com a colocação da “Razão” como símbolo da verdade e não mais a Deus.
Profundas modificações sócio-econômicas, como o êxodo rural, pessoas em busca de melhores salários nas cidades. Surge também, o verdadeiro espírito de contestação nas cidades pela exploração da mão de obra, desta forma às Congregações Marianas irão ficando à margem e começam acusações despropositadas contra os jesuítas, dizendo que às congregações são um grupo de maçonaria dos jesuítas. Acusam as congregações de microcosmo da cidade, devido aos oratórios particulares. Então, no ano de 1761, em Paris, o Parlamento impôs o cancelamento de todos os grupos ligados aos jesuítas.
No ano de 1773, no dia 21 de Julho, acontece a supressão da Companhia de Jesus, por Clemente XIV. Onde, vinte mil jesuítas são dispersos, mas o Decreto Papal não é proclamado na Rússia (que dominava a Polónia) nem na Prússia, por oposição de Catarina II e de Frederico II. Nestes territórios mantiveram-se os jesuítas e as Congregações Marianas a eles ligadas.
No dia 14 de Novembro, do mesmo ano: o Papa autoriza a continuação das Congregações Marianas, que passam a depender da jurisdição de um Bispo. Dá-se inevitavelmente a perda do espírito inicial, muito ligado aos Exercícios Espirituais e à preocupação pelos socialmente excluídos, convertendo-se as Congregações Marianas num movimento de piedade, de expansão crescente.
Mas na Alemanha do século XVIII, curiosamente, a terra de Martinho Lutero, principalmente nas regiões da Baviera e Alsácia, as Congregações Marianas prosperam.

4. Novos tempos

Em 1814 com a restauração da Companhia de Jesus, pelo Papa Pio VII, a 7 de Agosto, termina-se o êxodo e a esperança de retorno pela reconstrução daquilo que se perdera. Mas, nada será como antes!
Os jesuítas criam ao lado das Congregações, novas associações, como a Confraria da Boa Morte; Liga de São Luiz Gonzaga; Novena da Graça de São Francisco Xavier e os Exercícios Espirituais que eram exclusivos aos religiosos e seminaristas são abertos aos leigos. A partir destas iniciativas, penetrarão nas missões populares; as mulheres definitivamente entram nas CC.MM., mas cabe lembrar, que de forma tímida as mulheres já participavam desde 1707.
Deste modo, surgem acusações dos adversários dos jesuítas, que viam nos movimentos leigos, possíveis instrumentos de subversão da ordem social.
A renovação das Congregações Marianas na virada dos séculos XVIII para o XIX é muito tímida, devido à descristianização em vigor na Europa das luzes.

5. Uma nova formação e novas práticas

No final do Século XVIII é bem notória a preferência da Igreja pelos pobres. Os humildes constituem o verdadeiro povo cristão: é a classe média que vai surgindo.
Insistência para que o jovem trabalhador se torne operário qualificado, sendo profissional competente, atualizado, impondo-se assim a seus companheiros de trabalho. Tempos modernos de competência e eficácia; as virtudes do bom operário coincidem com as virtudes do bom cristão. O católico deve estar entre os melhores de sua profissão.
O Iluminismo, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e o desenvolvimento das cidades transformarão a Europa. Mas, as Congregações Marianas e outros movimentos serão os guardiões dos valores tradicionais. Aqui se observam os primeiros sinais anunciadores do sindicalismo cristão e da democracia cristã.
Na onda da Revolução Francesa, se unem congregados e maçons, mas à medida que o tempo passa tal união se torna inexpressiva. Novas congregações surgem. No século XIX surge a primeira obra operária, criada pela Congregação Mariana de Paris em 1822, cujo fim é preservar os jovens trabalhadores de todas as influências más. Os congregados perceberam que a miséria dos operários era maior do que parecia. Em 1891 o Papa Leão XIII publica a Rerum Novarum (sobre a condição dos operários).
O operário cristão, no grêmio das Congregações Marianas toma claramente consciência de sua condição e de sua solidariedade com seus companheiros de trabalho e também possuem suas responsabilidades. Estava sendo formada a elite do sindicalismo cristão.
Deste modo, as Congregações entre 1750-1850 foram sustentáculos ativos da união entre trono e altar, tornaram-se lugar onde se forjaram os primeiros defensores da democracia cristã e os militantes da ação cristã e os militantes da ação social e operária.
Graças às Congregações Marianas, surgiu o esboço de uma pastoral mais adaptada ao meio. Verdadeira promoção do leigo. Não foram apenas os homens e jovens, mas também as mulheres e crianças, enfim, toda uma sociedade foi atingida pelas Congregações Marianas. Não é mais o indivíduo isolado visado para a conversão, mas toda a família é chamada a ser objeto do apostolado.
As Congregações Marianas mostraram-se solícitas em preservar a tradição, mas fazendo seus associados abertos ao mundo moderno, às preocupações pelos outros, pobres e ricos. Deste modo as Congregações Marianas no início do Século XIX fazem opção de um autêntico anúncio que mais tarde chamar-se-á democracia cristã.

6. União e Antagonismos

O século XIX nada foi fácil para os Jesuítas, mas como as congregações agora estão dispersas, umas sob a égide dos jesuítas e outras paroquiais, outras ainda sob a direção de outras ordens religiosas, ficava difícil manter a mesma linha proposta em sua criação.
No Século XX, o Secretariado Central, em Roma, no ano de 1922, a partir da iniciativa do padre Ledochowski, geral dos jesuítas, reuniu pela primeira vez os que trabalhavam pelas Congregações Marianas, cujo principal objetivo era: construir um Secretariado Internacional que promovesse a existência das Congregações Marianas, que lhes desse uma inspiração e que servisse para a criação de Federações Nacionais.
Em 1948 existiam no mundo cerca de 80.000 congregações agregadas à Prima Primária, formada de homens e mulheres, adultos e jovens e curiosamente apenas 5% deste efetivo estava ligado aos jesuítas, os 95%  restantes, estavam ligados as dioceses urbanas e rurais e outras ordens religiosas.
O Secretariado visava o caráter de líderes espirituais, inclusive de leigos, para:
  • Fortalecer o Carisma Inaciano;
  • Capacidade de transmissão;
  • Sentido da Missão;
  • Responsabilidade Laical;
Em 1939, é elevado ao pontificado o Papa Pio XII, que bem conhecia a estrutura e forma das Congregações Marianas e era amigo pessoal do Pe. Emile Villaret,SJ (grande autor da história das Congregações Marianas). Em seu pontificado surge a Constituição Apostólica Bis Saeculari Die, que dá autenticidade às Congregações Marianas e significa um apelo em profundidade, com nova concepção do apostolado leigo. O Papa Pio XII dera forma oficial à Ação Católica e muito pensava no apostolado leigo, que de algum modo, devia ser parte central do movimento oficial da Igreja.
As Congregações Marianas eram uma forma especial e eminente da Ação Católica, afirmava o papa Pio XII; assim, abre o caminho para uma evolução no apostolado dos leigos. E insiste, na prioridade absoluta dos Exercícios Espirituais, como fonte de vida para as Congregações Marianas e as convida a uma contínua renovação.
Chegamos a 1950, o Pe. Janssens, novo Geral da Companhia de Jesus faz a pergunta a ser discutida: “O que devemos fazer para responder à Constituição Apostólica Bis Saeculari Die?” Pois, entendia que a maior dificuldade era a comparação com as Regras publicadas em 1910, que a partir da Constituição do Papa, precisava ser revista.
No ano de 1951 acontece o Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos, nota-se que não há nenhum órgão de âmbito mundial que as represente. Isto faz urgente promover uma Federação Mundial das Congregações Marianas, que reúna e canalize todas as atividades das diversas delegações.
Assim, em 1953 foi apresentado por iniciativa do Papa Pio XII, o Projeto do Estatuto da Federação Mundial. E, no ano de 1954, na Cidade Eterna, acontece à primeira Assembléia Mundial, onde foi aprovada a autonomia e independência das Congregações em relação ao secretariado dos jesuítas.
No ano de 1959, na segunda Assembléia em Newark (USA), são dados os primeiros passos em direção aos Princípios Gerais e à autonomia das Congregações Marianas.
Em 1964, na III Assembléia da Federação Mundial, em Bombaim (Índia). Os “Princípios Gerais” foram aprovados, mas decide-se esperar pelo fim do Concílio Vaticano II (1962-1965) para a sua promulgação.
No período entre os anos de 1927 a 1967, desenvolve-se no Brasil a Onda Azul do Marianismo; acontece a primeira concentração católica após a Revolução de 1930, onde é festejada a vinda da imagem da Virgem Aparecida, na então capital do Brasil, cidade do Rio de Janeiro. Vale registrar a declaração de Dom Sebastião Leme (cardeal do Rio de Janeiro): “o impulso fora dado! O Brasil tinha agora uma outra ‘Rainha’ e ela comandaria um exército predileto, uma ‘Acies Ordinata’ em luta contra o inimigo mortal: o comunismo. E iria dar alento novo ao combate, o famoso slogan: A FITA AZUL SALVARÁ O BRASIL, contra o ‘vermelho’”.
Acontece o Concílio Vaticano II (1962-1965), com o objetivo de discutir a ação da Igreja nos tempos atuais, ou seja, a sua finalidade é “promover o incremento da  católica e uma saudável renovação dos costumes do povo cristão, e adaptar a disciplina eclesiástica às condições do nosso tempo” e do mundo moderno. Por outras palavras, o Concílio pretende o Aggiornamento (atualização e abertura) da Igreja.
Então, a partir da influência dos novos tempos, no ano de 1967 foram aprovados no III Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos os Princípios Gerais das Congregações Marianas, mas, no mesmo ano, acontece a IV Assembléia Mundial das Congregações Marianas, em Roma. Um nome novo é proposto: “Comunidades de Vida Cristã”; novos Estatutos; novos “Princípios Gerais”; novo título para a Revista (“Progressio”); normas jurídicas que dão à Federação Mundial autonomia e a tornam garantia de unidade, em lugar da Prima Primária.

7. Fim das Congregações Marianas?

Não foi o fim, mas um recomeço, pois desde 1970 as Congregações Marianas passaram a existir vinculadas à Federação Mundial das Comunidades de Vida Cristã (CVX), mas houve um grande esvaziamento das Congregações e nas lideranças que se mantinham fiéis, foi despertado o desejo de uma volta ao estilo tradicional, ao seu estilo dos últimos cinqüenta anos.
Não houve avanço, e sim retrocesso. Em 1988, a CVX, mantinha as Congregações Marianas como representantes no Brasil, desta forma o Brasil mantinha no Conselho Mundial dupla representação (CVX e CCMM).
Então, no ano de 1991, em reunião dos dirigentes marianos, na cidade de Aparecida,SP, as Congregações Marianas passam a ser uma associação religiosa de leigos, autônoma, com uma Regra de Vida própria, com espiritualidade mariana, trabalho apostólico e estrutura organizacional própria. Esta decisão foi homologada, pelo então cardeal Dom Eugênio Sales.
Em novembro de 1992, foram aprovadas as Regras de Vida, sob a coordenação do vice-assistente nacional Dom José Carlos de Lima Vaz,SJ e homologado por Dom Eugênio de Araújo Sales.
Em março de 1993 o Conselho Executivo da CVX concorda por unanimidade, em admitir as Congregações Marianas do Brasil como membro associado, de acordo com as normas da CVX.
Em maio do mesmo ano a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) erigiu canonicamente as Congregações Marianas do Brasil como associação pública de âmbito nacional e aprovou o texto da regra de Vida, designando o Cardeal Dom Eugênio de Araujo Sales, como Assistente Eclesiástico Nacional.
Ainda neste ano, os decretos da CNBB e o texto da Regra de Vida foram encaminhados pelo Cardeal Dom Eugênio Sales ao Pontifício Conselho dos Leigos em Roma, onde houve resposta positiva por este Conselho sob a liderança do cardeal Pirônio.
Assim, as Congregações Marianas do Brasil obtiveram, finalmente, após 23 anos de uma situação que lhes desfigurou e enfraqueceu a identidade na vida da Igreja do Brasil, uma fisionomia própria como instituição, como proposta de anos de vida espiritual, como instrumento da Igreja no seu trabalho apostólico e como uma estrutura associativa organizada.

8. Ano de 2013, 450 depois.  Olhar a frente!

Hoje, com um olhar na história das Congregações Marianas, temos um futuro pela frente. Como continuar esta bela história em um mundo tão diverso.
“Antes de programarmos iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade de comunhão, ou seja: ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade. Espiritualidade de Comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo Místico, isto é, como um que faz parte de mim, para saber partilhar suas alegrias e os seus sofrimentos. Espiritualidade de Comunhão é ainda a capacidade de ver antes de tudo o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como Dom de Deus. E, ainda Espiritualidade de Comunhão é saber criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos outros (Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes. Não haja ilusões! Sem essa caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão”. (cf. Bt João Paulo II, Carta Apostólica “No Início do Novo Milênio”)
A visão histórica e real dos tempos que acompanham a evolução das Congregações Marianas nos aponta inúmeros desafios que devem ser afrontados e vencidos antes que o materialismo apague nosso ideal, nosso entusiasmo e afogue a nossa entrega a Maria para chegarmos a Jesus.
Tais desafios no campo do conhecimento, da ciência e da técnica exigem Congregados plenamente inseridos, conscientes e atuantes, na sociedade.  Já não se concebe mais um Congregado “Maria vai com as outras”, mas que seja indagador e, no limite do possível, contestador diante do erro.
O Congregado de hoje deve esforçar-se para assimilar os dois lados da balança: A Ciência do Conhecimento e a Espiritualidade da Doutrina.  O prevalecimento de um destes lados sobre o outro o torna manco ou alienado o que seria comprometedor nos tempos de hoje.
Uma vez que as CCMM não podem ser mudadas, só fica uma saída: que os Congregados Marianos se mudem, ou como todos esperamos, se mudem ficando.
Por isso, precisamos iniciar no Brasil uma verdadeira “CRUZADA POR UM MARIANISMO MAIS ESCLARECIDO”, escolhendo somente pessoas que sejam capazes de se tornarem verdadeiros Congregados Marianos, formando mais seriamente nossos aspirantes e candidatos, de acordo com nossa Regra de Vida.
À luz da sociedade atual, como deve ser o Congregado Mariano?
O congregado de hoje deve estar de acordo com as exigências de nosso tempo.  E o nosso tempo exige, além dos conhecimentos institucionais e profissionais, realizarem sua vocação espiritual com:
  1. A busca da santidade;
  2. A vivência da oração;
  3. A Eucaristia dominical;
  4. O sacramento da reconciliação;
  5. O primado da graça (haver dentro das congregações marianas espaço para a oração pessoal e comunitária que é um princípio essencial da visão cristã de vida);
  6. A escuta da palavra;
  7. O anúncio da palavra;
  8. A busca da espiritualidade de comunhão;
  9. O respeito às variedades de vocações;
  10. O trabalho pelo empenho ecumênico;
  11. O abrir-se à caridade fraterna.
9. Ano 1563 nascemos do esforço de um jesuíta. Ano 2013 um jesuíta se torna Papa

Diz-nos o Papa Francisco, na homilia (na Domus Sanctae Marthae na terça-feira, 16 de abril) que o Concílio Vaticano II é “fruto do Espírito”, mas muitos querem retroceder.  O Concílio permaneceu sem ser aplicado.
Por isso, o Vaticano II representa uma oportunidade histórica para uma grande revolução eclesiástica que ainda não se levou completamente a cabo. Graças ao espírito conciliar, a Igreja abriu-se para o mundo, mas ainda há muito caminho pela frente.
Há algumas vozes que querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, isto significa querer domesticar o Espírito Santo, isto é ser tolo e lento de coração. O mesmo acontece, inclusive na nossa vida pessoal: de fato, o Espírito nos impulsiona a tomar um caminho mais evangélico, mas nós resistimos. É por isso que o Papa Francisco lançou a seguinte exortação: “Não oponhamos resistência ao Espírito Santo. É o Espírito que nos torna livres, com essa liberdade de Jesus, com essa liberdade de filhos de Deus!”.
“Não opor resistências ao Espírito Santo: esta é – concluiu Francisco – a graça que queria que todos nós pedíssemos ao Senhor: a docilidade ao Espírito Santo, a esse Espírito que vem para nós e nos faz seguir em frente no caminho da santidade, essa santidade tão bela da Igreja. A graça da docilidade ao Espírito Santo”. Conforme bem viveu a Virgem Maria, basta contemplarmos a Anunciação.
O Concílio foi um evento extraordinário e não apenas para a Igreja, mas para todo o mundo. A Igreja, finalmente, foi entendida como Povo de Deus, e as hierarquias colocaram-se a serviço dos fiéis, e vice-versa. “Também Jesus – observou o Papa – repreendeu os discípulos de Emaús”, porque eram lentos para crer em tudo o que os profetas haviam anunciado.

10. A Igreja eterna no tempo avança.

Sigamos em frente, com esperança!  Diante da Congregação Mariana abre-se um vasto oceano onde devemos nos aventurar com a ajuda de Jesus Cristo.
O mandato missionário nos impulsiona, convidando-nos a ter o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora; podemos contar com a força do mesmo Espírito que foi derramado no Pentecostes e nos impele ainda hoje.
Nosso passo tem de tornar-se mais rápido para percorrer as estradas do mundo.  E, neste caminho acompanha-nos a Virgem Maria a quem foi confiado o terceiro milênio, como “Estrela da nova Evangelização”.  Maria Santíssima é a aurora luminosa e guia segura do nosso caminho.  “Mulher, eis aqui os teus filhos” (Jo 18,26).
Assim, devemos ocupar nosso espaço para a construção do Reino, fazendo em nosso trabalho “tudo para a maior glória de Deus”, lembrando de nossas gloriosas tradições.
Apontando ao Documento de Aparecida (DA), lembramos que ser Congregado Mariano é fruto de uma grande alegria, pois descobrimos que “ser cristão não é uma carga, mas um dom” (DA 28). Por isto, o Congregado Mariano festejando seus 450 anos de serviço a Igreja, com orgulho poderá dizer que “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria“. (DA 29)

Parabéns Congregados Marianos e avante! Salve Maria!

Eduardo L. Caridade
CM NS Aparecida e S. Sebastião, Engenho de Dentro, RJ
 
 
______________________________________________

Bibliografia:
1. Maia, P.A., História das Congregações Marianas no Brasil. Edições Loyola, São Paulo, 1992.
2. VV.AA, As Congregações Marianas no Brasil. Terceira Edição. Edições Loyola, São Paulo, 1995.
3. VV.AA, Curso de Formação para Congregados(as) Marianos(as). Confederação Nacional das Congregações Marianas do Brasil. Rio de Janeiro, 2005.
4. Site: http://www.cvxp.org/ da CVX (Comunidades de Vida Cristã), Portugal, acesso em 21 de abril de 2013.
5. Site: http://www.zenit.org/pt. Homilia do Papa Francisco na Domus Sanctae Marthae no dia 16 de abril, acesso em 21 de abril de 2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um olhar por trás da controvérsia da Eucaristia da JMJ Lisboa

  por Filipe d'Avillez 11 de agosto de 2023 . 14h08     Enquanto a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa termina, o debate persiste sobre algumas decisões litúrgicas tomadas durante o festival de uma semana realizado para peregrinos católicos de todo o mundo.  O Papa Francisco disse que Lisboa foi a Jornada Mundial da Juventude mais bem organizada que ele já viu como papa, mas alguns católicos estão criticando, com polêmica nas redes sociais sobre o tratamento da Eucaristia em Lisboa.  A Eucaristia reservada em uma tenda na Jornada Mundial da Juventude, na forma prescrita pela Fundação Jornada Mundial da Juventude. Crédito: MN. Havia dois pontos principais de discórdia. Uma delas tem a ver com a cibória usada numa missa ligada à Jornada Mundi

A verdade sobre o dom de línguas

  “O dom das línguas é um milagre não para os fiéis , mas para os infiéis” (1Cor 14,22). O Papa São Gregório Magno comenta esse versículo: "Estes sinais foram necessários no começo da Igreja . Para que a Fé crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que elas se enraizaram, cessamos de regá-las. Eis porque São Paulo dizia: “O dom das línguas é um milagre não para os fiéis, mas para os infiéis” (I Cor, XIV,22)." ( Sermões sobre o Evangelho, Livro II, Les éditions du Cerf, Paris, 2008, volume II, pp. 205 a 209). As línguas faladas em pentecostes eram "idiomas" (At 2,8ss). “Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotámia, Judéia, Capadócia, Ponto e Asia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em n

Porque chamamos as pessoas de "senhor" ou "senhora"?

Rodrigo Lavôr No Rio, quando você chama alguém de "senhor" ou "senhora" é comum que as pessoas te respondam: "deixa de ser formal. O Senhor ou a Senhora estão no Céu!". Trate-me de "você"! Bem, não deixa de ser bonito, dado que "você" é abreviação de "vossa mercê". Porém, por desconhecimento da raiz latina da palavra "senhor", perdemos muitas vezes a oportunidade de receber um grande elogio. "Senhor" vem de "dominus, i", o que significa: senhor, dono. Antigamente, se dizia "senhor" e "senhora" a toda pessoa a qual se desejava dizer: "você é dono (a) de si mesmo (a)", ou seja, você é uma pessoa madura, que tem "self mastery" ou uma pessoa muito virtuosa porque tem areté (= virtude, no grego). Sendo assim, não percamos a oportunidade de deixar que nos chamem "senhores de nós mesmos" quando acharmos que as coisas, de fato, são assim. Não tem nada a